Vitória merecida?! Vitória justa!?

Mérito e justiça são 2 palavras usadas indiscriminadamente por muitos, não atendendo ao verdadeiro significado.

Mérito é a capacidade para impor a estratégia da equipa para o jogo, perseguindo com sucesso o objectivo para a competição.

Justiça é um conceito que se prende com o desenvolvimento do jogo dentro das regras de jogo estipuladas pela FIFA, sem interferência do árbitro no desenrolar do curso do jogo e no resultado final!

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Vejamos…

Em situações normais ouvimos um treinador no final do jogo referir que o resultado é merecido, vencendo ou ganhando, porque a sua equipa ou o adversário foram mais eficientes. Depreende-se daqui que o jogo decorreu sem interferências, dentro das regras, que houve equilíbrio ao nível das capacidades das equipas imporem o respectivo jogo, mas que uma delas conseguiu concretizar e outra não. O mesmo mérito ocorre quando a equipa, face à valia individual e colectiva, consegue impedir o adversário de actuar da forma que pretendia, demonstrando capacidade ao impor o seu próprio jogo e sendo capaz de concretizar em golos essa capacidade que demonstrou durante os 90 minutos.

O que não pode nem deve acontecer é que a equipa de arbitragem tenha interferência no modo como o jogo decorre, com ou sem interferência no resultado. A arbitragem deve ser neutra, regida por imparcialidade na decisão, baseando a decisão em factos observados e cumprindo estritamente as regras FIFA.

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O árbitro é um juiz. É aliás esse termo juiz que os brasileiros usam… e bem, diga-se! O processo de tomada de decisão deve ser sempre imparcial e baseado em factos observados, nunca beneficiando nenhuma das partes. O árbitro deve intervir apenas quando tem a completa certeza do que vê, intervindo o mínimo possível. É aqui que muitas vezes falham, decidindo por convicção, por impressão e sem certeza. Não o devem fazer porque estão a colocar-se em possibilidade de errar, sendo que assinalar um evento de jogo de que não se tem a certeza é sempre um erro mais grave do que não o ajuizar e deixar o jogo seguir.

Passo a explicar:

- é muito mais grave um árbitro assinalar golo num lance que não é claramente visível a bola dentro da baliza, do que assinalar e todos perceberem na repetição que é impossível alguém ter visto a bola completamente para além da linha de baliza.

- é muito mais grave um árbitro assinalar uma falta que pensa ter existido, sem ter a certeza (seja por contacto físico ou por mão na bola), do que na dúvida deixar a bola seguir.

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- num lance de possível fora de jogo, em que não seja visível o atleta atacante claramente á frente do defensor é muito mais grave que seja interrompida a jogada do que se deixar seguir.

Com isto quero explicar que em todos os casos, na dúvida o árbitro deve deixar o jogo seguir o seu rumo. Na dúvida o erro menor é sempre a não interferência deste elemento estranho ao jogo. Como adepto consigo desculpar, mesmo contra os meus interesses clubisticos, a não interferência do árbitro. O inverso, que o árbitro apite o que não vê com certeza, é para mim muito menos compreensível.

Seguindo a mesma lógia, devemos habituar-nos como adeptos a analisar todos os lances duvidosos como lances normais em que nada deve ser assinalado. Haveriam assim menos penaltis falsos, menos jogadas interrompidas por falso fora de jogo, menos jogadas de meio campo mal interrompidas, menos lances de bola na mão mal assinalados… haveria menos falsidade no jogo.

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Há uma única situação em que vejo os adeptos reflectirem sobre este facto de, na dúvida, deixar seguir a jogada. É o fora de jogo, onde se beneficia o ataque. É a única lei que refere o beneficio ao ataque, escusadamente diga-se, porque também só se aplica ao ataque. No entanto, a lei subjacente a todos os juízos é a mesma, na dúvida beneficia-se o jogo… não se interfere e deixa-se o jogo seguir curso.

Retomando o tema da injustiça do resultado, deve-se dizer claramente que a justiça prende-se única e exclusivamente com a condução do jogo dentro das regras, e que nada tem com o mérito das equipas. E porque a justiça é para as 2 equipas, só se deve vencer com justiça tal como só se deve perder com justiça! Com ou sem mérito, deixemos apenas isso ao sabor dos acasos do jogo, do azar ou da qualidade dos atletas, técnicos ou equipas.

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Vemos por esta altura a arbitragem completamente descredibilizada. A análise aos trabalhos do árbitros revelam demasiados erros objectivos, por tomada de decisão errada e muitos menos por abstenção de interrupção de jogadas. São demasiados erros, demasiada interferência no curso dos jogos e das competições. É algo que extrapola a simples incompetência.

O responsável nacional pela arbitragem é o Vitor Pereira, Presidente da Comissão de Arbitragem da Liga. Ele veio há poucos meses assumir que não podia recrutar outros árbitros, e que estes são limitados nas suas capacidades e competência. A situação agravou-se e esta semana chegou-se ao impensável. São várias as vozes que se estão levantando desde o início da época denunciando a enormidade de erros objectivos e favorecimentos. Estes vêem agora os seus protestos reconhecidos pelo responsável máximo da arbitragem e assumindo publicamente que têm havido interferências nos resultados. Mais grave que isto é o facto assumido pelo Vitor Pereira que os árbitros não tem agido com a imparcialidade que a competição e jogos exigem.

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Fico por aqui e apenas por meras questões de arbitragem, porque não quero pensar (mas penso) que alguém, ou alguns interesses instalados consigam controlar toda a arbitragem da competição ao ponto de o próprio responsável pelos árbitros ver-se obrigado de o assumir em público. As questões disciplinares são outra vergonha deste futebol nacional e que ninguém consegue ter argumentos lógicos para defender, apenas a lógica do interesse. Certamente algo muito grave está a acontecer. Nunca ninguém viu e ouvi o que se tem passado esta época… estaremos talvez ao mesmo nível das péssimas histórias mitificadas de décadas longínquas e que os adultos mais jovens não conheciam.

Voltando ao mérito e à justiça. Que nunca seja a injustiça a premiar a equipa que mais mérito demonstrou. Isso tem acontecido demasiadas vezes e não tem a mínima desculpa ou argumento. É igualmente grave. E porque o contrário também acontece: que nunca seja o mérito da equipa a justificar a injustiça cometida ao adversário, ou a escamotear a injustiça ocorrida.

Espero ouvir mais vezes e mais vozes afirmarem que os resultados são injustos. O contrário seria muito mais desejado mas não acredito que as arbitragens melhorem até ao final da época. No final até pode vencer a equipa que melhor jogou, mas será uma vitória manchada por injustiças. Relembro que em justiça, nem sempre os melhores vencem, são essas as contingências de um jogo: a dicotomia e duelo entre os mais fortes e mais fracos, os mais atléticos e os mais tecnicistas, ou mais estilísticos e os mais tácticos. E deverá ser sempre assim.

Texto de Nuno Silva para o Negócios do Futebol