O Sporting de Braga alcançou este fim-de-semana a primeira vitória fora de portas, ao vencer o Portimonense por 3-0. Muito pouco para uma equipa que no ano passado conseguiu, com todo o mérito, um grande feito, ao conquistar o vice-campeonato, atrás apenas de uma máquina de futebol chamada Benfica.
Esta época, contudo, os resultados da equipa do Minho têm estado muito aquém das expectativas criadas depois de uma boa pré-temporada, onde eliminaram Celtic e Sevilha da Liga dos Campeões com boas exibições e, acima de tudo, revelando uma atitude ambiciosa e um grande espírito de luta. No campeonato, porém, a equipa mostrou-se sempre muito inconstante, em parte devido à rotatividade imposta por Domingos Paciência (lembre-se que na época passada o Sporting de Braga não disputou a Liga Europa, já que havia sido prematuramente eliminado pelo Elfsborg da Suécia). Outro aspecto que afectou a equipa sensação de 2009/10 foi a saída de algumas peças importantes e a contratação de jogadores que não estiveram à altura do desafio. Aliás, após as saídas de Evaldo e João Pereira (este último no Inverno) criaram um vazio nas laterais que não foram devidamente compensados. Miguel Garcia não tem a mesma propensão ofensiva do agora defesa do Sporting, enquanto que a irregularidade do nigeriano contrasta com as constantes boas exibições a que o lateral Evaldo nos habituou vestido de vermelho.
Na minha opinião, Sílvio poderá fazer esquecer João Pereira, mas Elderson (ainda) não tem qualidade suficiente para compensar a saída de Evaldo. Precipitações e falhas de concentração são frequentes neste jovem jogador que, todavia, tem uma margem de progressão interessante. Ainda assim, o reforço do flanco esquerdo deve ser feito (Marco Ramos parece ser o escolhido), de forma a garantir concorrência pelo lugar, já que, embora Sílvio também possa jogar na esquerda, rende mais no lado oposto do terreno. Quanto ao centro da defesa, Rodríguez e Moisés, ainda assim, uma das boas duplas do campeonato, embora os dois jogadores tenham sido fustigados por lesões. No entanto, com a saída do experiente brasileiro para o Qatar, Paulão deverá assumir-se como o parceiro do peruano caso enquanto não chega nenhum reforço para a zona central (embora ache que caso Kanu, do Beira-Mar seja adquirido, é muito provável que ganhe a titularidade ao brasileiro ex-Naval). O alto jogador tem dado boas indicações como titular e deverá manter o estatuto até final da temporada, até porque não existem muitas mais opções no plantel. Aníbal e Guilherme são dois jogadores que deverão ser tidos em conta no futuro.
No meio campo, a saída de Luis Aguiar (um lutador por natureza, mas que tacticamente parecia estar a mais em campo) obrigou a algumas mudanças estratégicas que parecem ter ajudado a equipa. A fixação do duplo-pivot Hugo Viana-Vandinho em terrenos mais recuados permite ao Braga sair a jogar de duas maneiras distintas, alternando entre passes curtos e em profundidade, e a existência de um médio ofensivo livre, como Mossoró ou Helder Barbosa, que muitas vezes troca de papéis com Paulo César. Aliás, penso que a excessiva “experimentação” de duplas de pivots terá sido um dos factores que que desencadeou uma quebra no rendimento da equipa, sendo que a inclusão de Luis Aguiar como uma dessas peças foi um erro, agora resolvido com a sua saída. Embora fosse um excelente marcador de bolas paradas, não possuía visão e profundidade suficiente para sair com a bola e, em parte devido querer estar sempre a comandar o jogo, acabava por subir e sobrepôr-se ao espaço que deveria ser do médio ofensivo. Neste aspecto, Leandro Salino sempre me pareceu uma boa opção, já que fazia um bom trabalho a recuperar e transportar a bola, porém, em várias ocasiões, Domingos preferiu utilizá-lo como médio-ofensivo, o que lhe retirava espaço de manobra, pois ao em posições mais adiantadas tinha de recorrer menos ao transporte e mais ao uso da visão de jogo e técnica do passe, atributos que definitivamente não são aqueles que mais o favorecem.
No ataque bracarense, depois da saída de Matheus, o trio ofensivo até final da temporada deverá incluir os habituais Alan-Lima-Paulo César. Os dois extremos do Braga, desequilibradores por natureza, fazem uma boa sociedade com o avançado brasileiro, melhor marcador da equipa com 6 golos na Liga. Alan destaca-se pela forma como temporiza o jogo e muda de velocidade ao mesmo tempo que ganha duelos no um-para-um enquanto que Paulo César aposta na busca por espaços vazios onde possa efectuar o remate ou um último passe. No entanto, existe nos dois uma característica comum, que ajuda a tornar mais estável a equipa aquando da perda de bola. Neste momento do jogo, os dois jogadores recuam e ajudam os laterais a fechar os espaços no flanco, despindo as vestes de artista que ostentam durante o momento ofensivo, passando a vestir o fato macaco. Quanto a Lima, descoberto tardiamente pelo Belenenses, é dotado de uma boa capacidade física e de movimentação de área, mas o que realmente o define é a facilidade que tem em rematar de quase qualquer posição. Este avançado brasileiro tem rendido em todas as frentes, e tem-se revelado a melhor aquisição do clube esta época.
Assim sendo, penso que a fase inicial (que se prolongou demasiado, diga-se) de hesitações e indefinições quanto à gestão dos jogadores e seu enquadramento no plano de jogo bracarense já estará ultrapassada e que os bons resultados deverão começar a fruir. Todavia, o início complicado fará com que esta época a nada se compare à anterior, pelo que o Braga deverá ficar satisfeito se ficar entre os cinco primeiros classificados. Quanto à Liga Europa as aspirações não serão muito elevados e deverão passar por fazer por honrar a imagem do clube, depois de uma fase de grupos da Liga dos Campeões que correu dentro do esperado, dada a qualidade das equipas adversárias. O Lech Poznan não é, no entanto, um adversário fácil (basta olhar para o facto de ter eliminado a Juventus na fase de grupos da Liga Europa) e a deslocação à Polónia deverá ser encarado pelos bracarenses como um desafio. Rudnevs, avançado dos polacos, é um jogador a ter em atenção. Remate forte e agilidade são argumentos deste jovem que recentemente marcou três golos à Velha Senhora. Ainda assim, que um Braga no máximo das suas capacidades será capaz de passar à fase seguinte, onde deverá encontrar o Liverpool, pelo menos de acordo com as maiores casas de apostas (sendo que algumas delas, diga-se, possuem bónus de aposta bastante interessantes).
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