Casos de arbitragem: Alemanha e Argentina vencem com mérito ou justiça?


Hoje andam por aí “uns amigos” todos contentes…

… é que ontem, tanto a Alemanha, como a Argentina venceram “com toda a justiça”… segundo os tais! Os mesmos que quase ficam indignados por se questionar a vitória de uma equipa que vence um jogo com uma margem folgada no marcador, mas que evolui durante a partida beneficiando de erros de arbitragem em fases fulcrais… a menos que só o sintam quando favorece equipas vestidas de vermelho, hoje também deveriam estar indignados, pois tanto Alemanha como Argentina não vestem de vermelho!

Eu diria, como sempre, que venceram com mérito: souberam gerir os espaços e ritmos de jogo, aproveitaram com eficácia as oportunidades de golo e concederam poucas oportunidades ao adversário… e souberam aproveitar bem os enormes erros de arbitragem que mancham para a história este mundial!

Nas duas situações foram erros factuais grosseiros:
  • uma bola que entra quase um metro dentro da baliza e ninguém vê! Daria a consumação do regresso ao jogo da Inglaterra, depois de estar a perder por 2 golos empataria o marcador e ficava com uma moral indiscutível para o resto da partida.

  • um golo em fora de jogo de 2 metros… com aquele outro de Dezembro… que também ninguém vê! …ninguém excepto todos os jogadores e adeptos da equipas prejudicadas! Depois do México estar 30 minutos em cima de uma Argentina que não jogou nadinha, abre, escancara as portas do jogo para a vitória… e já nem quero falar no lance dividido entre Tévez e o GR, que precede o suposto golo, e que não protegendo o guardião considera que Tévez não tira a bola das mãos do GR.

Em ambas as situações o árbitro fez o menor dos erros… não assinalar aquilo que não vê (supostamente não vê, mas devia). Assinalar um golo sem ver a bola lá dentro ou marcar o fora de jogo sem ter a certeza seria o pior dos erros, mas não lhes serve de atenuante! O primeiro golo da Argentina então é sui generis … depois de validar o golo, faz-se um compasso de espera e o liner fica em conversa pelo comunicado com o 4º árbitro que deverá estar a assistir no monitor da TV a repetição! Ainda pensei que já haviam meios tecnológicos no futebol. Infelizmente não há e validaram aquele golo injusto! Os Srs. Blatter e Platini devem estar radiantes… na semana passada a América espertou para o futebol depois de lhes roubarem um golo limpinho, aumentando com certeza a aficcion para este desporto. Agora resolveram fazer o mesmo com a nação que deu este desporto ao mundo… desnecessário… e ao México!



Por isso é que insisto tento que tentem mudar a linguagem e os conceitos.

JUSTIÇA é uma coisa… MÉRITO é outra… completamente diferentes, que podem e devem coexistir, ou não…. Mas pelo menos que não falte justiça, já que algumas vezes se consegue vencer sem mérito. Nem sempre os mais fortes ganham, felizmente!

O Freitas Lobo, a quem muitos prestam reverência, mas de quem eu acho que se faz usar de truques de linguagem para dar a entender que percebe mais de futebol do que realmente percebe… reiterou hoje a sua objecção aos meios tecnológicos… só lhe faltou dizer que a polémica é a essência do futebol e que é o factor de vinculação dos adeptos ao jogo e que o erro é humano e desejável.
Recomendo que vejam jogos de futebol americano, rugby ou ténis. Aí não há lugar à falcatrua, a mentira e à desonestidade! O esclarecimento de lances duvidosos é um outro espectáculo dentro do próprio espectáculo. Já vi várias dessas situações e mesmo que se demore a visionar a jogada e a decidir… demora sempre menos do que as reclamações e pressões de jogadores e técnicos sobre os árbitros e a triste encenação de comunicação entre árbitros. Os senhores do futebol podem falar de tradição, de hábitos de manutenção do ritmo de jogo, de humanização… mas eu acredito somente numa coisa: manutenção de poder e ingerência no normal decurso das competições! Já nem falo nas conhecidas “bolas quentes” e “bolas frias” dos sorteios nas competições UEFA e FIFA… e que ainda no ano anterior ditaram praticamente os mesmos resultados no ensaio da véspera, e no dia do sorteio…!



Eu sou completamente a favor da tecnologia, aliás, em caso de dúvida aplicaria sempre a tecnologia… a mesma que já está disponível para o adepto poder criticar os jogadores, técnicos e os árbitros. O futebol é um desporto bonito demais para que o estraguem e já que se deixou transformar-se em negócio sem tectos ou limites, nem igualdade no acesso às competições e de orçamentos, pelo menos que se imponha verdade desportiva !!!

Uma das primeiras coisas que impunha era o tempo cronometrado. É indecente que pague 30 ou 50 euros por um jogo que tem 55 minutos de tempo útil. E que ao fim de 105 minutos termina, sabe-se lá em que contexto… Time out’s são outras coisas a ponderar, mas poderia falar de mais substituições sem paragem de jogo, entrada de elemento da equipa médica sem paragem de jogo (em ortopedia não existem emergências e o Fair Play é definitivamente outra coisa), tempo e liberdade para festejos das equipas quando marcam golos, aumento dos tamanhos das balizas, liberalizar todos os lances de fora de jogo em que o passe seja feito no meio campo defensivo, cartões amarelos a penalizar com exclusão durante o jogo, maior penalização do uso do contacto físico e das faltas, esclarecimento do contacto com a mão (lei da vantagem ou falta em todos os contactos)…

É indecente e desrespeitoso que quando termina um jogo, jogadores e técnicos vão à flash interview e não falem para os adeptos que enchem as bancadas.

Por mim deviam as equipas deveriam ter acesso a pedir 2 visionamentos por parte em lances que tenham dúvida… obviamente que não se interrompe a jogada, o arbitro apita normalmente com um critério de só assinalar quando tem a certeza. E esses request’s só se gastam se efectivamente estiverem enganados… passa esse factor a fazer parte do jogo estratégico e de inteligência dos técnicos.



Se em vez de 2 liner’s houvessem 2 juízes de TV a comunicarem com o árbitro!?

Mas tudo isto emboca num outro factor… o futebol tem que se profissionalizar ao nível da TV/media. As competições têm que tornar exclusivos às emissoras pagantes do fenómeno: sejam rádios, TV’s, jornais, revistas. Mesmo os programas de comentários pós jornada devem pagar direitos e nunca devem maltratar o desporto e a organização que os “alimenta”. Os programas pré e pós match têm que ser oficiais, participados pelos clubes e atletas e visando sempre os interesses da competição e adeptos! O clubes e jogadores têm que ser por regulamento obrigados a participar na divulgação e mediatismo do fenómeno, senão são penalizados. As próprias realizações de TV aos jogos devem ser controladas pela competição como faz a FIFA e UEFA, mas com entrevistas ao vivo, microfones para ouvir à posteriori as intervenções de todos os jogadores, técnicos e árbitros.

Sei que são mudanças a mais para os cânones Europeus... pouco pragmáticos, demasiado conservadores, especialmente no que remete para a conservação do poder! Acima de tudo é uma mudança de lógica, de paradigma… o centro das decisões têm que ser os adeptos e o espectáculo! Este jogo tem muito por onde evoluir e cativar ainda mais adeptos e receitas!

Li algures na net: isto que vi ontem é o melhor exemplo do “No Evolution Soccer 2010”.
Think about it!

Texto de Nuno Silva para o Negócios do Futebol