Mercado de árbitros

Inferiorizar o que é produzido cá e apenas apreciar o que vem de fora, numa lógica de procurar adaptar as nossas especificidades às que admiramos noutros países, é uma característica bem portuguesa. No futebol, claro, acontece o mesmo. Um exemplo? A aposta no mercado internacional, em detrimento de optar por uma pesquisa séria internamente e até em divisões inferiores, para contratar jogadores ou treinadores. São inúmeros os casos de jogadores portugueses com qualidade a quem nunca é concedida uma oportunidade para se mostrarem. Nos últimos tempos, contudo, nos treinadores, essa tendência vai-se esbatendo, embora o sucesso pareça sempre mais fácil no estrangeiro do que em Portugal. Daí que se fale numa nova vaga de treinadores portugueses, que conseguem impor-se e mostrar a sua valia.

Nos dias actuais, com vista a combater o défice de qualidade da arbitragem portuguesa, tem sido referido um possível intercâmbio de árbitros. Assim, um jogo do campeonato português seria dirigido por um inglês, um italiano ou um espanho - o mesmo acontecendo com os outros paísesl. À primeira vista, poderia ser uma boa medida, uma vez que os árbitros estariam imunes à pressão, não lhes seria atribuída qualquer simpatia por determinado clube nem seriam recordados erros antigos de forma a condicionar a sua acção. O principal da arbitragem portuguesa está precisamente aí: qualquer erro, por mais pequeno que seja, serve para carregar uma espécie de cadastro que se contrói ao longo das temporadas. Acabariam os erros se o árbitro fosse Massimo Busacca, Roberto Rosetti ou Howard Webb? Não! Mas o ruído de fundo evitava-se. Visto assim, parece-me bem.

No entanto, é óbvio que não terá eficácia total. Os árbitros, seja de que nacionalidade for, erram. Nenhum deles é perfeito. Também nos outros campeonatos existem erros de arbitragem, casos com influência no resultado, está longe de ser problema exclusivo de Portugal. A nossa arbitragem está atrás da inglesa? Sem dúvida. E o futebol? Há comparação entre ambos? Não! Sé uma verdade de La Palice que muitos dos nossos árbitros não têm a competência necessária, também há a outra face da moeda: Olegário Benquerença é um dos árbitros mais bem cotados na Europa, estará no Mundial 2010 e merece confiança para dirigir jogos importantes da Liga dos Campeões. E, no entanto, é português. Valerá a pena ir ao mercado?

Texto de Ricardo Costa, do blog Futebolês