A maravilha das estatísticas

O futebol é mesmo assim. No jogo contra a Dinamarca, Portugal dominou, jogou e fez jogar, rematou, num jogo empolgante, mexido e de emoções fortes, especialmente na primeira parte. Contudo, não conseguiu marcar mais de um golo, o que deixou um amargo na boca e apenas deu um ponto na classificação quando o merecido era os três. Ontem, no jogo em Budapeste frente á Hungria, assistiu-se a um jogo que foi um verdadeiro hino ao anti-espectáculo, tão mal jogado que não lembra um Naval x Vitória de Setúbal para a Taça da Liga. A exibição de Portugal esteve longe de ser brilhante, nem chegou aos calcanhares da réplica produzida em Copenhaga, e muito menos em número escandaloso de remates, e por consequência directa, ao rácio baixíssimo de eficácia remate/golo, mas contra a selecção que apareceu em campo sobre a designação de Hungria (citando o comentador da rádio, pergunto-me se aquela era a mesma selecção que antes do jogo de ontem estava em segundo lugar do grupo), pouco mais poderia ter feito. Creio que é de consenso geral que o que interessava aqui mesmo eram os três pontos. Foi isso que aconteceu, e agora os últimos dois embates, novamente frente á Hungria e de seguida frente á Malta, serão jogados em Portugal, o que pode ser uma motivação extra para que a selecção consiga fazer o pleno nestes últimos dois jogos.


O dia de ontem teve inúmeras nuances que acredito terem sido uma mais-valia para o futuro próximo de Portugal. Vejamos:
  1. A Dinamarca empatou contra a Albânia, o que garante que o jogo frente á Suécia, de extrema importância para Portugal, vai ter que ser muito disputado, pois a Dinamarca quer ganhar ou empatar para garantir o primeiro lugar do grupo, resultados que servem Portugal, e para isso não vai poder dormir “á sombra da bananeira”, tendo que partir para cima da Suécia.
  2. A Suécia teve um desempenho sofrível frente á Malta, que convêm lembrar que é o ultimo classificado do grupo, e mostrou que se jogar assim, pode ser presa fácil para a Dinamarca, que é o que todos queremos. Além disso, Ibrahimovic joga para a Suécia como Ronaldo para Portugal. Para mim, se Marcus Berg não for lançado no jogo, a Dinamarca tem pontos garantidos neste duelo nórdico.
  3. O melhor em campo e o autor do golo foi Pepe, brasileiro naturalizado português, o que mais uma vez envia outra autêntica “patada na boca”, passe a redundância, naqueles que têm durante as últimas semanas praticado uma onda de escárnio e maldizer contra os naturalizados. O que preferem, ser arredados do Mundial ou marcar presença com um par de brasileiros no equipa? E aliás, o modo como Pepe festejou o golo diz muito nas entrelinhas.
  4. O resultado de ontem garantiu que caso Portugal seja o segundo classificado, e consequentemente o repescado do grupo para os Play-offs, não será o pior segundo classificado da zona Euro, pois para tal acontecer, a Escócia teria que ganhar por 6-0 á Holanda, o que escusado será dizer, é impossível.
Como se pode constatar, o dia de ontem foi extremamente positivo para Portugal, e para ser melhor só faltava o Ronaldo ter marcado um golo que não fosse de penálti para mostrar que ainda tem qualquer coisa de melhor do mundo.


Entretanto, e deixando agora de parte a selecção nacional, viremo-nos para o campeonato nacional. Após a sua interrupção temporária, devido aos compromissos internacionais da maioria das selecções mundiais, é já este fim-de-semana que regressa a rotina dos jogos dos clubes portugueses, e também a meio da semana para os clubes que disputam as competições europeias. Horário sobrecarregado que marca o início da Champions League e Europa League, que conta com a participação dos três grandes e o Nacional, estreante nestas andanças.

Começando pelo FC Porto, não será um ciclo de jogos fáceis para os dragões. Leixões em casa, Chelsea e Braga fora e Sporting e Atlético de Madrid novamente em casa marcam um mês infernal para o Porto, que tem ainda a condicionante de vários jogadores estarem sujeitos á habitual fadiga quando jogam pelas selecções e clubes num curto espaço de tempo (Rodriguez, Fucile, Alvaro Pereira, Raul Meireles, Bruno Alves, Falcao e Guarin).
O Leixões é, dentro deste grupo, o mal menor de Jesualdo Ferreira, que poderá aproveitar para utilizar jogadores que tenham maior frescura física de momento (Valeri, Tomas Costa, Mariano, Varela, Hulk, Maicon…), mas convêm não esquecer que os matosinhenses pertencem ao restrito lote de equipas que derrotaram o Porto em casa na última época, sendo que foram a única equipa portuguesa a fazê-lo.
O Chelsea (ou era o Arsenal? Ai ai desanimado) traz o Porto de volta a Inglaterra, e pode muito bem vir a ser o jogo mais complicado da época por vários motivos que passo a enunciar: um Porto na sua melhor forma encontra-se geralmente a meio da época e a três ou mais pontos dos concorrentes directos, ao passo que o Chelsea começa a época de forma demolidora, depois acalma, e por fim termina outra vez em máxima força; a carga de jogos não beneficia o Porto, ao passo que o Chelsea e as equipas inglesas já consideram tal um habitué; por fim, já se sabe o historial do Porto em jogos realizados em Inglaterra, que é um país enguiço para os dragões.
Segue-se o Braga, equipa que é o actual líder isolado da Liga Sagres, e que não se faz de rogado perante os grandes, assumindo-se como uma equipa tradicionalmente difícil de bater. Antes do desafio diante do Porto, o Braga enfrenta o Marítimo num jogo que destaco pela hora a que se vai realizar, 11:15h, uma hora que considero excelente para se realizarem jogos, que seguramente leva mais assistência a um estádio do que jogos ao Domingo às 21:00h. Alias, jogos de manhã já se organizam em Inglaterra há muitos anos, e acho que nem vale a pena comparar as organizações da FPF e FA.
O Benfica, elevado a estatuto de concorrente número 1 ao título pela comunicação social após uma vitória choruda diante de um Setúbal que durante o defeso mais parecia um casting da TVI, enfrenta no Restelo o Belenenses, equipa que está uns furos acima do congénere da época passada, e que conta entre as suas fileiras jogadores como Yontcha, que começou a época de forma sensacional, e Fredy Adu, o puto americano prodígio que após uma época quase parado no Mónaco regressa a Portugal para tentar marcar presença no Mundial 2010, onde os EUA estão com meio pé. Aproveito para questionar como é que um jogador destes, que sempre que foi chamado ao onze encarnado cumpriu, e bem, é emprestado a um Belenenses quando no plantel principal permanecem Carlos Martins e é contratado Menezes. Já nas competições europeias o Benfica enfrenta o BATE Borisov para a Europa League, que sob este novo formato foi transformada numa mini-Liga dos Campeões. O BATE não é propriamente um colosso europeu, logo o Benfica deve conseguir trazer com facilidade uns pontinhos importantes para o ranking.
Já o Sporting recebe o Paços de Ferreira e tenta não perder mais terreno para os principais rivais, que já estão a dois pontos de distância. Este jogo pode, de resto, marcar a estreia de Angulo no onze inicial, contratação feita a contar já com a sua enorme experiência internacional, e que acredito que possa fazer a diferença no plantel do Sporting. Não fosse o problema das laterais (Pedro Silva e André Marques não são exactamente portentos do futebol) e acredito que o Sporting pudesse fazer uma grande época. Ainda há tempo para melhorar, apesar de tudo. Já na Europa League o adversário é o Heerenveen, que desde que perdeu Pranjic para o Bayern tem estado muito abaixo do seu nível habitual.



Para finalizar esta crónica queria ainda abordar um tema que tomei conhecimento a partir daqui, no “Negócios do Futebol”, e que se prende com o projecto da “Sporting TV”. Creio que a criação de um canal exclusivamente de um clube, projecto que fora primeiramente consumado em Portugal pelo Benfica, é uma excelente iniciativa e espero que se concretize rapidamente, e que depois se siga um "Porto TV", ou então que o Porto Canal possa passar a ser parceira do FC Porto como já se falou. Apoio isto simplesmente porque é um atentado às receitas ver como a Olivedesportos e a Sport TV manipulam os contractos dos direitos de imagem dos clubes portugueses, tendo o lucro que têm. É ridículo. Por exemplo, o Tottenham, clube que na temporada passada acabou a meio da tabela da Premier League, e que provavelmente não tem mais adeptos que nenhum dos três grandes, recebe mais em direitos televisivos que os clubes da Liga Sagres e Vitalis TODOS juntos, e nem sequer joga nas competições europeias. Com a criação de canais independentes, os clubes passam a ter uma margem negocial muito maior sobre os seus direitos de imagem. Podem exigir o preço justo pela transmissão de jogos, e caso a Olivedesportos/Sport TV não aceite, passam o jogo no canal do clube, coisa que por exemplo o Nacional não pôde fazer após não chegar a um consenso para transmitir o Nacional x Zenit. E claro, mesmo transmitindo jogos em diferido, como a SIC fez nos jogos do Benfica contra o Vorskla Poltava, os clubes continuam a fazer dinheiro. E isto fora as receitas em publicidade, etc. É uma área que neste momento está sub-explorada pelos clubes portugueses á excepção do Benfica e que é controlada tal como um monopólio de petróleo pela “máfia” da Olivedesportos, que até as horas dos jogos consegue controlar. Se estes projectos fossem avante seria uma bonita estalada de luva branca nesses senhores. Como referi, as vantagens que os canais podem trazer são imensas. Os lucros aumentam, e consequentemente a competitividade dos clubes portugueses lá fora também. E é isso que se quer, não é?

Texto de Francisco Carvalho para o Negócios do Futebol.