FC Porto bate Sampdoria na apresentação aos adeptos


O coração tem razões que a própria razão desconhece. É este o desafio do benjamim André Villas Boas para o F.C. Porto 2010/11. A citação de Pascal serve de mote para a descrição de um Porto em mutação, com cicatrizes de uma cirurgia recente, promessas de organização plena e injecções de sangue azul. Vitória na apresentação oficial, frente à Sampdoria (2-1).

Adversário curioso na festa do Estádio do Dragão. Antigo clube de Luigi Del Neri, o primeiro sucessor de José Mourinho no F.C. Porto. Anos passados, volta o estilo prodigioso ao emblema azul e branco, agora reconhecido como um «coração com razão». Conseguirá Villas Boas dominar este Dragão? O desfile de nomes com carimbo oficial não reservou surpresas, a porta continua aberta nos dois sentidos, João Moutinho é o único reforço com entrada inquestionável no onze. No mais, reaproveitamento e reorganização dos activos, o mesmo Porto com postura diferente.

Bola de pé para pé, troca mais troca mais troca, caminhada formosa e segura para a baliza adversária. Movimentações sem bola, um bom princípio à espera de final feliz, e linhas subidas na pressão sobre o opositor que se apodere do jogo. A lógica de Villas Boas já passou para o relvado, o tal «coração com razão» anunciado na vestimenta. Depois, surgem talentos indomáveis como Hulk, a curvar numa recta, fiel ao seu próprio princípio, meio e fim. Quando o incrível pensa, pára e olha, deixa de ser o incrível. O F.C. Porto terá de contentar-se com explosões incontroláveis, por vezes fracas, outras fortes, tão fortes que só param na baliza adversária.



São as tais razões do coração que a própria razão desconhece. O sangue azul flui com irregularidade, alimenta o corpo do Dragão ao seu jeito. Resquícios de imprevisibilidade num futebol que se quer previsível, pelo menos aos olhos portistas. A fórmula resulta quando a balança demonstra total equilíbrio. Ao minuto 25, entre um punhado de práticas elaboradas por Villas Boas, foi a arte de Hulk a levantar bancadas, um pontapé sem razão que não a sua, um golaço sem mérito para mais ninguém. Foi tudo ele, um concentrado de força a celebrar o 24º aniversário. Quatro golos e uma assistência em cinco particulares. Antes, no melhor anúncio das mudanças preconizadas por Villas Boas, foi Fernando a inaugurar o marcador. Acabou-se a destruição limitada, pede-se mais a um jogador sedento por novos desafios. Veio o golo, de cabeça e inusitado, o primeiro com a camisola do F.C. Porto. Não marcava há dois anos e meio.

O Dragão 2010/11 ataca com organização, assente num meio-campo renovado e seguro. A defesa tremelica, Miguel Lopes e Maicon prometem, Emídio Rafael é o elo mais fraco. Pelo menos, neste domingo. Com uma mão na bola, deu a Cassano o golo que interrompeu a festa portista. Por breves momentos. Tudo o mais foi azul e branco. Sem direito a imagens no televisor, foi o site do clube a divulgar a festa, com 341 mil pessoas ao longe, a acompanhar pela internet. Mais 39 mil nas bancadas. Tanta gente a torcer por um futuro melhor. in Maisfutebol