Jesualdo, e os equilíbrios...

Foi referido neste último programa do Trio uma estatística dos jogos grandes que o Porto jogou sob a batuta do Jesualdo. A fonte é o blog Super Porto, e devo dizer que consultando a imagem não fiquei muito surpreendido…

O problema do Jesualdo não se tratam de resultados, mas antes qualidade de jogo! O que ele poderá ter de melhor serão mesmo os resultados, não dos jogos, mas das competições de regularidade… ele é um maratonista. Vencendo os campeonatos pela regularidade em detrimento de algum maior fulgor, nem que seja momentâneo, nem que seja nos grandes jogos!


Na primeira época: V1, E4, D3

- perde internamente apenas um jogo com o SCP, em casa
- apenas vence internamente ao Benfica, em casa
- em jogos internacionais perde na casa do Arsenal e Chelsea, empatando no Dragão

Na segunda época: V4, E1, D5

- nacionalmente, perde 3 jogos com o SCP
- internacionalmente perde um jogo com Liverpool (goleado) e outro com o Schalke
- Vence 3 jogos grandes em Portugal

Na época anterior, V2, E7, D4

- de 13 jogos grandes apenas venceu 2, SCP em Alvalade e Liverpool (B) no Dragão
- tem 7 empates e 4 derrotas: SCP e ManUtd; por goleada com SCP e Arsenal

Esta época já vai com 3 derrotas e 1 vitória. Apenas venceu o SCP. Se adicionarmos a derrota em Braga fica um cenário ainda pior. No total de 35 jogos: apenas venceu 8… empatou 12 e perdeu 15! Na fase de grupos da champions apenas venceu o cabeça de série contra o tal Arsenal B no dragão! Na fase de eliminatórias venceu apenas no Dragão com o Schalke, e foi eliminado! Perdemos entre super-taça, taça e taça da liga por 4 vezes com o SCP, em 5.

Na totalidade destes jogos, apenas marcamos mais que 1 golo em 6 jogos… a que corresponderam 4 vitórias e 2 empates. Ou seja sempre que marca mais que um golo não perde! Leva já para (não) contar aos netos, 3 derrotas humilhantes por 4 golos com SCP, Liverpool e Arsenal!


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O grande problema do Jesualdo tem sido a utilização de um 4-3-3, que os especialistas dizem ser o modelo táctico mais fácil de implementar mas que na actualidade se reconhece ser de baixa eficácia a alto nível. Segundo vários treinadores, neste momento quem quer vencer na Europa deverá usar o 4-4-2 numa das suas variantes, de acordo com as características do plantel. Já que o 4-4-2 povoa melhor o meio campo e possibilita maior flexibilidade de adaptações durante o jogo. É no fundo, mais versátil e simultaneamente mais seguro em termos de controlo do meio campo. É de notar que estes sucessivos 4-3-3 de Jesualdo nunca tiveram simultaneamente 2 verdadeiros extremos.

Recordo sempre uma entrevista na RTP, no final da sua passagem pelo Braga. Foi-lhe solicitado o comentário à opção do Adrianse pelo sistema dos 3 defesas… tratou o assunto, o treinador do Porto, e a coragem pela opção com o maior dos desprezos e sem reconhecer nenhum mérito ou capacidade. Disse mesmo que aquilo não era nada de especial e nem pelo facto de ser holandês, já que é exactamente o mesmo que qualquer treinador português faz a 5 minutos do final do jogo, quando necessita ganhar! O facto é que essa sobranceria colide com o facto de nunca ter demonstrado verdadeira audácia nas situações difíceis e não possuir um quinto da coragem (ou loucura) que marcava o treinador Adrianse! Em jeito de ironia, acho até estranho que o Hélton não seja internamente castigado por ter subido à área do Benfica no final deste recente jogo… não foi com certeza por ideia do Prof.

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Ser Portista, nestes 3 anos e meio, é uma prova de amor ao clube… frequentar o estádio é possivelmente um delírio de masoquismo. O futebol apresentado é mau, demasiado preso por equilíbrios, sem rasgos de criatividade, com os jogadores amarrados à táctica e o futebol amarrado aos resultados. A defesa é a prioridade, o contra-ataque é a palavra de ordem e a posse de bola é palavra proibida… tabú! O primeiro golo é uma sentença no jogo e na ínfima possibilidade de manter alguma objectividade na baliza adversária e o segundo golo é quase sempre um acaso, fruto da diferença de poderio entre os clube, entre as individualidade. Os assobios passaram a ser a imagem de marca das bancadas, e que mais penaliza os jogadores, nomeadamente os mais criativos… porque nunca o Jesualdo beneficia o jogo e os jogadores mais criativos, pelo contrário… gosta de músculo, equilíbrio e táctica!

O factor mais importante a reter terá sido o medo que o Jesualdo instiga nos seus atletas, ao mudar o habitual plano de jogo para estas partidas. A semana que antecede e prepara estas partidas devem ser bastante tensa… é que os jogadores com certeza já perceberam que a mexida táctica que a equipa vai sofrer terá o mesmo resultado de sempre… Ele nunca alinha nestes jogos com a sua equipa habitual no esquema habitual! Tem sempre algo a inventar e geralmente corre mal. Recordo como invenção bem sucedida apenas a primeira parte na Luz, na época anterior, com Tomás Costa na direita… ainda assim deixamos empatar na segunda! Não deixa de ser curioso que essa estratégia usada não foi repetida, logo aquela que deu algum efeito! As suas recentes invenções com Guarin deram sempre derrota: Chelsea, Braga, Maritimo e Benfica. As ausências de Belluschi têm tido o resultado semelhante. Tenho a certeza que os jogadores já não acreditam nas invenções do Jesualdo!

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É um treinador com opções estranhas… tem sempre uns jogadores fetiche: Guarin, Tommy, Mariano… prontos a entrar nas situações menos expectáveis e por vezes para as posições mais surpreendentes, que o digam o Tommy e o Mariano… foram médios, extremos, defesas laterais e eventualmente trincos! As suas substituições são quase ao cronómetro, invariavelmente aos mesmos minutos de jogo e com uma ausência de audácia ou criatividade impressionante! Dizia eu a meados da segunda parte na Luz, quando nos perguntávamos qual seria a próxima substituição, que o Jesualdo o mais audacioso que conseguia ser era retirar o Meireles e colocar o Belluschi (sem lógica: já com o relvado esburacado). Depois demora demasiado tempo em experiências à equipa e testes a jogadores. No ano anterior demorou a perceber que Fernando, Rolando e Hulk era sem dúvida titulares.

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Este ano passa-se o mesmo com Varela e Belluschi. Depois vai retirando e recolocando da equipa o Hélton, o Rolando, o Belluschi, o Hulk… como se a culpa dos desaires fosse dos atletas e não do sistema ou do “processo”! No fundo só agrava a confiança dos atletas nas suas capacidades e a moral para fazer face às adversidades! Que o Hulk não é ponta de lança, todos perceberam, Jesualdo incluso… não é o seu ADN jogar de costas para a baliza a dominar e servir colegas… mas também não é extremo. Vejam-se os seus mais recentes golos e a presença no segundo jogo pelo Brasil para perceber que deve e tem que jogar atrás do avançado, não na linha, onde o lateral encaixa e com a ajuda momentânea do médio ou do central anula por completo qualquer possibilidade de sucesso ao jogo do Hulk. Mesmo Falcão ou Farias não são para jogar na típica estratégia de bloco, mas mesmo bloco, baixo e saída rápida para contra-ataque… são jogadores de área, são quase exclusivamente de área… completamente inconsequentes. E dizer que o Falcão é melhor que o Lisandro no mesmo estado evolutivo é fazer chacota de quem possa perceber de bola. São completamente distintos. Que seja melhor que Farias, concordo… ainda que com semelhanças que não fazem justificar a sua aquisição, sem a venda do primeiro!


Jesualdo é um homem de 63 anos, Benfiquista (obviamente profissional, não duvido) que nunca tinha vencido nenhum título até à sua chegada ao Porto com 60 anos! Costuma-se dizer que “burro velho não aprende línguas”… eu discordo. Vai-se sempre a tempo de aprender, de se ser competente nas funções e capacidades que possui. Agora duvido obviamente da capacidade intrínseca à pessoa que não demonstrou atempadamente o seu mérito e o seu sucesso, independentemente da disponibilidade de trabalho ou aprendizagem. Tem mesmo alguns factores que corroboram do seu insucesso pré-Porto, como o facto de ter tido boas oportunidades no Benfica e nas Selecções Nacionais.

Theo Walcott of Arsenal in action as FC Porto?s goalkeeper Helton tries to make a save during the UEFA Champions League Group G match between Arsenal and FC Porto at the Emirates Stadium on September 30, 2008 in London, England.

Enfim… é “razoável demais” para o “barco” que comanda... e no porto não basta ser razoável! Tem alguns méritos, obviamente: a exposição pública que liderou durante o processo do apito em que o PdC esteve ausente das declarações em público… a capacidade de reformular sucessivamente os plantéis após as vendas milionárias do Verão… o trabalho com os atletas recém-chegados e jovens, não os do clube, porque da cantera nada chega aos seniores! Mas de méritos, fico-me por aqui… Vejo nele um possível director desportivo bem sucedido, por exemplo. Parece-me um técnico bem relacionado com a SAD, possivelmente bem relacionado a mais e que acate tudo, ou quase tudo, o que a SAD queira colocar no plantel ou no mercado! Parece-me de facto bem quisto pelos dirigente, tendo resistido a uma época anterior fraquíssima (de futebol e não de resultados), com arranque péssimo, com a goleada no Arsenal… e mesmo neste mau arranque tenho a certeza (infelizmente) que não vai ser substituído.

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Os nossos adversários devem compreender que a maior frustração de 99% dos Portistas não se depara com o adversário ou inimigo directo… antes com o próprio treinador! São os mesmo adeptos que esperavam um novo técnico após a goleada com o Arsenal e que apesar da goleada ficam “satisfeitos” por ter na expectativa esse novo capítulo no Porto, mas não sucedeu… são os mesmo que ficam frustrados por perder com o Benfica … com ou sem erros de arbitragem… se nós soubéssemos que uma goleada afastava o Jesualdo do comando do Porto… assim fosse!

Se ao menos eu acreditasse no Pai Natal!
Boas Festas a todos…

Texto de Nuno Ricardo da Silva para o Negócios do Futebol