Olhar sobre o FC Porto


Pois bem, completamos a nova rubrica dos "Olhares Desportivos" com o último dos olhares sobre os ditos «grandes» do futebol português. Nesta primeira crónica para o "Olhar sobre o FC Porto" teremos como principais focos as últimas duas exibições do Futebol Clube do Porto, ambas nesta semana, ambas com resultado de derrota, pelos mesmos 1-0. Ainda assim, qualquer um se apercebe de que houve diferenças muito grandes no que toca à prestação da equipa a contar para a Liga dos Campeões, e para o campeonato nacional.


A equipa do Porto teve esta semana a sua estreia nas competições europeias deste ano, com o jogo a contar para a fase de grupos da Champions League frente aos ingleses do Chelsea. Sinceramente não posso dizer que estivesse esperançado em termos de resultados para este confronto, mas ainda assim acreditava nas capacidades do plantel, mesmo que o nosso fado por terras inglesas não tenha sido o mais favorável nos últimos anos. Para começar, Jesualdo fez questão de surpreender, como geralmente acontece em jogos europeus, tirando Belluschi do 11 inicial e dando lugar a Guarin. Ao princípio pareceu-me uma decisão algo duvidosa, até porque sem Belluschi perdiamos a unidade criativa a meio-campo, para ganhar uma espécie de elemento mais defensivo. Contudo, com o decorrer da parida esta provou ser uma decisão mais que acertada da parte do treinador dos dragões, que permitiu à equipa uma exibição bastante conseguida em Stamford Bridge. O Porto ganhou muitas bolas a meio-campo, estagnou várias vezes as investidas atacantes dos homens do Chelsea, e teve muitas oportunidades de contra-ataque. Pois já no que toca ao contra-ataque, e à capacidade de ser eficaz no jogo rápido, a equipa portuguesa não foi tão capaz de criar perigo como seria de esperar. A verdade é que se Jesualdo acertou ao trocar Belluschi por Guarin, na minha opinião errou em colocar Mariano de início na partida, e talvez até em escolher Cristian Rodríguez para extremo inicial. A incapacidade de Mariano em dar seguimento a muitas das jogadas do FC Porto debilitou a equipa, perdendo-se oportunidades de incomodar a baliza de Petr Cech.



Partida empatada ao intervalo, boa exibição dos azuis e brancos até ao recomeço do jogo. A partir dos 45 minutos, começaram os desaires. A estabilidade da equipa a meio-campo e na defesa perdeu-se parcialmente, os jogadores não cobriram tão bem os espaços, e o Chelsea foi gradualmente aproximando-se da baliza. Até que numa desatenção defensiva (mais uma para jogos europeus ...), Anelka ganha sobre todos os homens do Porto, remata para defesa de Helton e já na recarga marca um golo "impossível". A juntar à perda de intensidade, a sorte parecia ser dos ingleses, e o avançado rematou para o fundo das redes. Apesar de ainda ter tentado reagir, o FC Porto sofria a primeira derrota da época, e entrava a perder na mais importante competição futebolística europeia. Contudo, se algo de bom se pode tirar de uma derrota, foi sem dúvida a prestação da equipa que deu alento a todos os adeptos portistas.



Uma mudança de capítulo leva-nos agora para a noite de ontem, para um Sporting de Braga - FC Porto que se sabia ser importante para os lugares cimeiros da Liga Sagres. Se por um lado o Porto tinha a oportunidade de tomar de assalto a liderança, o Braga tinha a chance de reforçar a mesma, que mantém desde a primeira jornada. Mensagens ao longo da semana demonstravam a vontade dos jogadores do Futebol Clube do Porto em conseguir reproduzir uma exibição tão segura como a do meio da semana, e ser ainda mais eficazes. Ainda assim, da teoria à prática, o que se viu ontem foi uma equipa desnorteada, insegura, nervosa. O Porto, que está habituado a entrar em todos os jogos, sob quaisquer circunstâncias, muito consistente e seguro, fez uma primeira parte francamente fraca, estando o Braga superior a todos os níveis. Como se isso não bastasse, ficou ainda uma grande penalidade por assinalar a favor dos minhotos, para coroar a exibição muito apagada de todos os elementos.



A equipa tinha de reagir, e uma mudança forte de atitude era necessária. Foi mais que óbvio que o "voto de confiança" de Jesualdo em Guarin desta vez prejudicou mais do que ajudou, e não entendo como Belluschi não entrou para colmatar a falha que foi a inexistência de coesão a meio-campo: falhavam-se passes, tentava-se arriscar o mínimo, e não havia creatividade. À partida Belluschi seria a unidade a fazer entrar em jogo, mas Jesualdo tinha aparentemente outros planos e as substituições só chegaram a meia hora do fim, com Falcao e Raúl Meireles a darem lugar a Farías e Cristian Rodríguez. Surpresa das surpresas, numa altura em que o Porto até parecia ser capaz de se assenhorar do jogo, Alan saca de um cruzamento-remate que deixa os tetra-campeões nacionais atrás no marcador. Escusado será dizer que alguém falhou, e tendo em conta que não era a primeira vez que jogadores do Braga tentavam a sua sorte de longe, quem fica mal visto na fotografia é mesmo Helton. Jesualdo Ferreira fala em mais um «golo estranho», talvez fazendo alusão a coisas como o sucedido frente ao Atlético de Madrid na época passada. Sinceramente nesta altura torna-se indiferente tentar colocar as culpas em alguém, mas com outras opções, pergunto-me até que ponto tem o FC Porto a necessidade de usar determinados jogadores. Final do jogo, três pontos perdidos, segundo lugar à condição do que o Benfica fizer esta noite, e mais importante que isso, cinco pontos de atraso em relação ao líder isolado do campeonato: o Sporting de Braga.