«Mourinho fazia em vinte minutos o que Jesus demora duas horas» - Jankauskas


José Mourinho, Jesualdo Ferreira e Jorge Jesus. Jankauskas trabalhou com os três em fases diferentes da carreira. Encontrou Jesualdo no Benfica, ajudou Mourinho a conquistar a Europa de dragão ao peito e, já em fase descendente da carreira, conheceu Jesus quando passou pelo Belenenses. Na conversa com o Maisfutebol dissecou os três.

O actual treinador do Inter encheu-lhe definitivamente as medidas. «Acima de tudo, trabalhar com o Mourinho era muito simples. Ele percebia os jogadores, sabia do que eles gostavam. Não roubava tempo com discursos. Falava quinze, vinte minutos. Com os vídeos era a mesma coisa. Ele sabia que os jogadores não gostam de estar duas horas a analisar um jogo e conseguia dizer o que era necessário em pouco tempo. Ficávamos a saber o que tínhamos de fazer, a conhecer o adversário e tínhamos mais para jogar à bola. Nunca tive um treinador assim. Era muito bom como psicólogo».

Jankauskas destaca, também, a diferença que encontrou entre o Benfica e o F.C. Porto. «No Benfica havia muita confusão com o presidente, não davam confiança ao treinador, só se falava de quem entra, de quem sai. O Estádio estava em obras, as condições de treino não eram as melhores e isso reflectia-se na equipa. No Porto encontrei um local mais calmo para trabalhar», revela.

Da passagem pelo Benfica guarda sobretudo o treinador, Jesualdo Ferreira. «Tinha uma relação mesmo muito boa com ele. Quando estava no Belenenses voltámos a falar e recordámos o tempo que estivemos no Benfica. Disse-me que eu era o ponta-de-lança que ele precisava no Porto. Muito bem. Boa gente», atirou por entre sorrisos.

«Jesus é bom mas cansa os jogadores»
No Restelo, o rendimento não foi o de outros tempos e as oportunidades escassearam. No banco estava Jorge Jesus, cada vez mais a dar nas vistas. Jankauskas não tem dúvidas da sua qualidade: «O Jorge Jesus é bom treinador. Está a treinar o Benfica, as coisas estão a correr bem e é porque é bom treinador. Mas também é muito exigente. Acho que é mesmo essa a palavra que melhor o define.»



Os métodos do treinador do Benfica é que não colheram muito o apreço do lituano. «Gosta muito de falar, de passar horas a analisar um jogo. Claro que isso é importante, mas eu acho que é um bocado de mais. Isso cansa os jogadores. Não sei se no Benfica ainda faz isso, mas no Belenenses tínhamos sessões de vídeo de duas horas. Isso é muito importante, mas o Mourinho fazia isso em vinte minutos e ganhávamos na mesma. Os treinos também eram muito puxados. Treinávamos no dia dos jogos e isso depois tinha reflexos na nossa condição física.»

«Benfica é como religião, mas não a minha»
Aos 35 anos joga para se divertir e recorda os tempos em que os níveis competitivos eram mais elevados. Quando chegou ao Benfica, por exemplo, espantou-o a «onda vermelha». «Fiquei impressionado por ver tantas pessoas a torcer por um clube. Lembro-me de um jogo no Salgueiros, em que o estádio estava a abarrotar. Era sempre assim, no norte ou no sul», recorda.

Impressionado, comparou o Benfica a uma religião, o que caiu mal quando, pouco depois, assinou pelo F.C. Porto. «Houve má interpretação. Eu disse que o Benfica era como uma religião, mas não disse que era a minha. Da mesma forma que não digo que o F.C. Porto é a minha religião. Um profissional de futebol não pode dizer esse tipo de coisas. Mas é verdade que a forma como os adeptos do Benfica apoiam parece que aquilo é uma religião para eles».

A mudança para o norte aqueceu o Verão de 2002. Uma inflamação sem sentido, para Jankauskas: «Não foi a primeira vez nem a última que um jogador trocou o Benfica pelo F.C. Porto. A passagem pelo Benfica foi positiva, marquei alguns golos, mas ir para o F.C. Porto foi muito bom para mim, porque ganhei muita coisa.»