Porto 2-1 Arsenal: A Crónica

Falcao (foto ASF)

O Porto enfrenta o Arsenal nos oitavos da Champ’s, depois de o ter defrontado na época anterior durante a fase de grupos. O fantasma dos 4 a 0 em Londres é uma memória que ainda perdura e que a vitória no Dragão contra uma tal Arsenal B não fez esquecer. Com um orçamento infinitamente menor que o Arsenal, o Porto apresenta como argumentos, recentes participações muito positivas, nesta fase da competição.

O Arsenal apresenta-se no Dragão desfalcado, ao passo que os dragões têm o plantel principal completamente disponível, mas com atletas a retornarem de pausas forçadas, por lesão ou castigos.

Ao contrário de muitos prognósticos, o professor Jesualdo, coloca em campo um Porto bastante normal… leia-se, sem invenções. Na frente regressa Hulk, a acompanhar o Falcão e o Varela. No meio campo reentra Meireles para o lugar de Belluschi, mantendo-se o Ruben e o Fernando. A defesa é a habitual com Hélton, Álvaro, Bruno, Rolando, Fucile.

F. C. Porto bate Arsenal no Dragão

A entrada em campo fez-se com o porto em grande intensidade e a surpreender o Arsenal. De facto, até ao golo Portista o jogo estava a ser dominado pela equipa da casa e com algumas situações de perigo. O golo do Varela é o prémio, que o GR encontrou, para a boa exibição do jogador e da equipa Portista. Foi de facto um frango. Varela queria fazer um cruzamento tenso para o Falcão, mas o substituto eventual de Almunia deu um grande frango. Esta foi, no entanto, a primeira bizarria protagonizada pelo GR do arsenal.

Após o golo, o Porto retraiu-se. Houve uma maior pressão e resposta do Arsenal, ao mesmo tempo que o receio do empate se ia intensificando. O Arsenal acabou por empatar com relativa facilidade, num lance de bola parada em que a defesa ficou completamente estática e no qual a bola é tocada de cabeça por 3 jogadores do Arsenal dentro da pequena área. O domínio do jogo do Arsenal até ao final da primeira parte foi forte e, apesar de não ter proporcionado oportunidades claras de golo, manteve sempre grande tensão e perigosidade em zonas perto da grande área. De facto, trata-se de uma grande equipa, com muita capacidade de posse e circulação de bola e que no seu terreno será com certeza mas forte e mais consequente.

A reentrada para a segunda parte trouxe de novo o equilíbrio no jogo até ao momento do segundo golo portista. A partir daí não mais o Arsenal se encontrou na partida. As substituições do Wenger não trouxeram nada de bom ao jogo da equipa, enquanto que no Porto a entrada do T.Costa trouxe muito mais segurança, consistência e capacidade de controlo do meio campo.

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O momento do jogo foi o segundo golo do Porto. No lance em causa o Ruben, perseguia um passe de ruptura, e viu o Campbell antecipar-se e apertado a fazer um passe para o GR. O Fabiansky agarrou a bola para estupefacção do próprio Sol Campbell e foi assinalado o respectivo livre indirecto. Nada a opor quanto à decisão do árbitro. O GR entretanto dá a bola ao árbitro que a proporciona ao Rúben para o reinicio rápido da jogada. Rúben, com muita perspicácia, leia-se esperteza saloia, faz o passe para o Falcão, que marca facilmente o golo.

Não é habitual que os árbitros deixem estes lances de livres perigosos serem marcados rapidamente, no entanto, o espírito da lei é que não se beneficie o infractor, e portanto, que não seja necessário aguardar que a defesa do Arsenal de recomponha. Não gosto deste tipo de lances e imagino o que dirão hoje os jornais ingleses. Não é com certeza a melhor amostra de fair Play… Eu ainda me lembro de uma célebre eliminatória com o Bayern em que fomos eliminados precisamente com um lance de livre perigoso marcado rapidamente e que resultou em golo e no afastamento injusto do porto nessa competição. Ao contrário do que o Wenger disse no final, ainda deve lembrar-se que em 2004 marcou um golo ao Chelsea quando o Chec estava ainda a tentar formar a barreira… Henry foi o marcador.

F. C. Porto bate Arsenal no Dragão

A partir desse momento o Porto intensificou algum domínio, reforçado com a entrada de T.Costa. As entradas de Bellushi e Mariano, não trouxeram nada de relevante à equipa. O Arsenal também não conseguiu reagir, e não demonstrou que os 7 dias de repouso tivessem alguma utilidade no que diz respeito à preparação para este jogo. Talvez alguma sobranceria e complexo de superioridade provocaram falta de discernimento durante a segunda parte do jogo.

Individualmente há alguns reparos positivos a fazer.

O professor Jesualdo não inventou, não se amedrontou… o regresso de Meireles é compreensível e razoável, mas não resultou em pleno. Nas substituições a entrada do T. Costa foi cirúrgica, e a troca do Hulk mostra que o Porto não tem para os avançados, banco à altura. Mariano não trouxe nada ao jogo.

Na defesa, Hélton esteve muitíssimo bem, deu tranquilidade e confiança à defesa. Com certeza tem indicações para não arriscar a sair dos postes em cruzamentos ou cantos tensos, situação cada vez mais frequente no futebol mundial. Fucile e Álvaro estiveram bem, face às dificuldades esperadas, especialmente o Fucile, com muita entrega e sem os disparates recentemente apontados. No eixo o meu destaque vai para o Rolando… muito discreto, mas sempre no sítio certo e com cortes de dificuldade e importância extra. Desculpem-me o exagero, mas fez-me lembrar Aloísio. Bruno Alves esteve regular.

F. C. Porto bate Arsenal no Dragão

No meio campo os 2 destaques são o Fernando e o Rúben. O polvo, Fernando, é de facto essencial neste tipo de jogos. Apresenta um rigor, inteligência e cultura táctica supremos. Está sempre no sitio certo à hora certa, como se de um jogo de geometria se tratasse. Soberbo… é o jogador chave para estas partidas. O Rúben, cometendo o erro de errar e exagerar, é o nosso Zidane. É elegante, mexe-se com fluência, calca a relva com inteligência, traça as suas corridas com mestria e visão. É excelente a fazer a recepção dirigida da bola, a proteger e rodar, a encontrar linhas de passe pouco óbvias, com muita segurança e confiança. Além disso serve sempre de apoio até à entrada da área onde aparece sempre muito bem posicionado, quer para definir o lance passando, entrando com bola na área ou rematando com perigo. Os golos vão surgir brevemente, disse o Jesualdo, eu concordo. Foi ainda a sua estreia no palco mais adequado à suas qualidades. E assim se vai fazer esquecer rapidamente o Lucho… e assim se vai fazer um grande patrão no meio campo de classe internacional. À atenção do Sr. Queirós para a viagem a África. O outro realce era T.costa, já justamente efectuado.

F. C. Porto bate Arsenal no Dragão


No ataque regressa um ansioso e esfomeado Hulk… não era com certeza o melhor cenário para o seu regresso, mas soube controlar-se q.b e mostrar todo a qualidade e potencial. Sempre que tiver disponível tem que jogar. Arrasta sempre consigo 2 ou 3 jogadores e instila pânico nos defesas quando consegue ter a bola controlada. Continuo a achar que a linha não é o seu habitat natural, mas é o possível neste 4-3-3. Apesar da falta de ritmo competitivo, consegue fazer algumas arrancadas e ter bola por 3 a 4 vezes na área, uma delas revelando enorme técnica e que seria um golo fantástico, não saísse o remate à figura. Ainda assim esteve bastante bem na segunda parte. No futebol moderno, intenso e tão equilibrado, qualquer jogador que consiga sair de uma marcação, ultrapassar um adversário directo, ou exigir que mais que um adversário esteja momentaneamente focado na sua marcação é uma enorme mais valia. O Hulk e o Varela são este tipo de jogadores. Pela qualidade das suas acções fazem o jogo progredir, desequilibrar os sectores do adversário, desmarcar os colegas de equipa e abrir buracos nas zonas defensivas adversárias.

F. C. Porto bate Arsenal no Dragão

Varela foi o avançado em mais destaque, pela qualidade que tem, pelo ritmo que já adquiriu na fase pós lesão e pelo trabalho que deu quer na esquerda, quer na direita da defesa do Arsenal. Talvez poucos apostassem no seu inicio em jogo, mas Jesualdo não implementou o seu tradicional “4-4-2-com-Mariano” nestes jogos mais complicados e isso pode ter constituído alguma surpresa no Arsenal. Falcão foi como sempre um avançado inteligente, que desgastou a defesa e que foi de grande utilidade quando a equipa conseguiu chegar em posse de bola a zonas perto da área do Arsenal. A sua perspicácia no segundo golo é fundamental. Tem como principal problema a incapacidade em progredir com bola nos lances de transição rápida e longe da área… o seu habitat natural… ele é um Falcão, um predador e só na área é que consegue ser verdadeiramente útil, com a baliza como alvo e objectivo.

A segunda mão vai ser um jogo intenso e que facilmente pode cair para um, ou outro lado. O 2-1 em casa é um resultado muito perigoso. O Porto vai entrar em jogo sem a obrigatoriedade de atacar a eliminatória, o que é uma vantagem, e com a possibilidade de jogar em mais contenção e com transições rápidas de contra-ataque. Esse tem sido o método e estratégia preferido e com melhores resultados para estes jogos a eliminar e caso se concretize em golos, poderá dar ao Porto a tranquilidade para trazer a eliminatória para casa. O passar do cronómetro com o resultado a zero será também um aliado e poderá levar o Arsenal a arriscar mais, proporcionando oportunidade de ataque ao Porto. No caso de o Arsenal conseguir o golo, vamos vivenciar uma situação muito complicada… vamos ter que arriscar, abrir, assumir e veremos se temos qualidade para ombrear a esse nível com um Arsenal mais composto em termos de opções para inicio de jogo.

A atitude é que vai ter que ser a mesma de hoje: muita entrega, entreajuda, empenho, luta, um entrar em campo muito concentrado, com grande intensidade, coragem e audácia. Entretanto, ainda há um Braga para jogar e ganhar.

Texto de Nuno Silva