Jogadores portugueses: que futuro?

 A determinação de Adrien sintetizou o sentimento dos jovens jogadores portugueses a reclamarem por mais oportunidades. Tiveram que vir os estudantes para dar uma lição ao país.

Na memória futebolística nacional ainda está fresca a lembrança do hino nacional cantando no Jamor este domingo. Do lado da Académica, vários portugueses de mão no peito, do lado do Sporting apenas dois. Parece estranho, vindo de um clube que deu a grande maioria dos jogadores à selecção das quinas, mas a verdade é que o Sporting decidiu enveredar pelo mesmo caminho dos outros grandes. Ou seja, investir em estrangeiros, muitas vezes de qualidade dúbia.

A grande lição de Adrien (ao aniquilar Schaars e Elias), de Cédric e porque não de Marinho, no Jamor, não foi apenas para o Sporting, mas sim para os outros grandes, e porque não, para o futebol português em geral.

Relembro as palavras de Platini, a propósito da final da Europa League do ano passado, entre o Braga e o Porto, em que disse – “mais parecia um jogo entre duas equipas da América Latina”.

Se fosse o Benfica em vez do Braga, ainda menos portugueses haveria em campo. Este ano o Benfica alinhou na Champions com um onze onde não figurava nenhum português (relembro ainda a incredibilidade de um comentador alemão quando percebeu que o Chelsea tinha mais portugueses no onze que o Benfica).

Advinham-se tempos difíceis para a nossa selecção nacional. Hugo Viana disse, há pouco mais de uma semana, que é difícil ser jogador português em Portugal. No seguimento, lembrei-me selecção de sub-20 vice-campeã do mundo no passado. Que futuro para estes jovens, quando os clubes preferem apostar em jovens estrangeiros? Se não, vejamos: o Porto contratou o Iturbe, quando tinha o Sérgio Oliveira para a mesma posição. O Sérgio foi finalista do mundial, o Iturbe nem titular da Argentina era.

O Sporting incluiu o Arias no plantel principal e emprestou o Cédric. Contratou três centrais e emprestou o Nuno Reis (que foi só o melhor defesa do Mundial) e o Pedro Mendes. Contratou o Rubio, quando tem o Betinho que é, arrisco-me a dizer, bem melhor e nem teve uma única oportunidade na equipa principal. O Sporting é campeão de Juniores há uma série de anos seguidos. Onde andam esses jogadores?

No Benfica, só depois de muita insistência da imprensa e da opinião pública, é que o Jesus começou a apostar no Nelson Oliveira. Bem felizes devem estar os argentinos com o contributo que o Benfica tem dado à sua selacção.

Deixo só aqui mais duas reflexões. Tirando a última Liga Europa que o Porto conquistou, os restantes títulos europeus de clubes portugueses foram conquistados por equipas com predominância ou totalmente portuguesas. Na conjuntura actual isso seria impossível. E continuará a ser impossível se os ditos ‘grandes’ continuarem com estas políticas.

O Barcelona de Guardiola, que é só, provavelmente, a melhor equipa da história, é constituída, maioritariamente, por jogadores provenientes da sua ‘cantera’. A primeira decisão que Pep tomou quando chegou ao comando da equipa técnica foi dispensar Ronaldinho e Deco. Os resultados estão à vista. Além dos resultados, os jogadores carregam consigo a mística do clube, que é algo que não se pode comprar. Outro exemplo idêntico, este mais extremo, é o Athletic de Bilbao, que nas suas fileiras só tem jogadores bascos. Logo por isso é um clube especial.

Em Portugal, mesmo as equipas pequenas e médias preferem contratar brasileiros sem espaço no seu país, do que apostar em portugueses cheios de garra e com qualidade. Foi mesmo isso que fez a diferença no Jamor. O Sporting, que tanto se orgulha da sua academia, jogou praticamente só com estrangeiros, que nunca perceberão o simbolismo do Jamor, e dificilmente a mística sportinguista. Do lado da Académica estavam jovens portugueses cheios de garra para ganharem a taça, e no final ganharam e bem. A determinação de Adrien, perante o [milionário] meio campo leonino, sintetizou o sentimento dos jovens jogadores portugueses a reclamarem por mais oportunidades. Tiveram que vir os estudantes, mais uma vez, para dar uma lição ao país.

Por David Leão