Paços certos


Na sua corrida nem na periferia da pista, nem parte mais interior, o Paços de Ferreira vai fazendo o seu campeonato impassível aos outros. Apoiado numa estrutura com a mentalidade característica do clube, os pacenses encontraram em Rui Vitória um dinamizador das ideias do clube e, com uma das equipas mais jovens da nossa Liga, têm apresentado um futebol digno de mais atenção, baralhando as contas das casas apostas.

Aliás se passarmos os olhos com mais atenção do que aquela que geralmente nos merece as notícias relativas aos "pequenos" - que sentido terá presentemente esta palavra? - facilmente nos apercebemos que erramos ao colocar a Liga em três/quatro estádios. Até porque isso seria ignorar equipas como os nortenhos, camisolas amarelas deste ano, que lançam, sem qualquer tipo de medo de falhar, jovens como Caetano, Pizzi, Nelson Oliveira ou David Simão. E os resultados estão à vista de todos, e talvez este seja um bom pretexto para algumas entidades e/ou grupos sociais realizarem um checkup oftalmológico.


Uma equipa que transpira vitalidade e irreverência, muitas vezes necessária naqueles momentos de comodismo que me fazem adormecer no sofá durante os jogos à sexta-feira depois de uma semana de trabalho. Contudo, esta juventude é de forma sapiente apoiada em pedras basilares, grandes alicerces, que são jogadores como Ozeia ou Filipe Anunciação.

Mas, a tantos elogios, não consigo deixar de me sentir afectado, lesado moralmente e até insultado quanto à nossa identidade nacional. Porquê? Ora veja-se: que faz neste momento um Alan Kardec no Benfica? Ou um Weldon? Ou um Felipe Menezes? Para que a minha resposta não seja "nada" só vejo a obrigação de vos dizer com naturalidade óbvia portuguesa: matam as aspirações de jogadores como Nelson Oliveira ou David Simão.


E isto conduz-me para um panorama mais abrangente. Orlando Sá, avançado que encontra aos poucos o seu melhor ritmo no Nacional e se assumiu como um dos melhores jogadores na equipa insular; Rabiola, melhor marcador da Liga Orangina, bem mais competitiva do que os nossos preconceitos possam imaginar; Castro, médio que chefia o Sporting de Gijón e aos poucos vai mostrando toda a sua alma e técnica ao mesmo tempo. Todos eles não estão no plantel do actual líder do campeonato. Factor comum?A aposta em jogadores como Walter ou Souza retira-lhes o protagonismo, não querendo isso dizer que sejam melhores, bem pelo contrário.

Parem de uma vez! Como muito se tem dito na campanha eleitoral do Sporting, a propósito da teimosia em escolher um treinador estrangeiro, a nacionalidade não traz, por si só, qualidade. Aliás, com esse pensamento, a Liga Profissional de Basquetebol portuguesa importa americanos como quem compra bananas ao Equador e nem por isso a qualidade é maior. É preciso aproveitar o que a formação nos dá e que é tanto, mas aos nossos olhos tão pouco. É urgente um murro na sofreguidão comercial que agride o nosso tão bem reputado futebol. É urgente copiar os Paços certos...