Chega de olhar para os nomes


Somos um país de grandes e tímidas equipas. Portugal será, porventura, das nações que, nos últimos quinze anos, maior crescimento - especialmente ao nível de selecções - apresentou. Ainda assim, temos medo de cada vez que vemos uma equipa que vem de uma país que também tenha tradição em meter a "redondinha" a "balançar a rede" - recorrendo a expressões do grande "monstro" radiofónico que era Jorge Perestrelo.

Chego mesmo ao ponto de dizer que trememos como varas e todo aquele futebol latino, apaixonante pela grande técnica que imprime e alegria que transmite, fica à porta do estádio, sem bilhete. Resultado? Quando, no mínimo, estamos relativamente próximos de algumas equipas de renome internacional, perdemos ou temos resultados vacilantes. E lembro-me rapidamente de três casos:


1. A eliminatória entre FC Porto e Arsenal da época passada - Os "putos" de Arsène Wenger estavam a protagonizar mais um ano cujos números assombrava qualquer mínimo entendedor de futebol - pela negativa leia-se. Se na primeira mão as coisas até não correram mal, com o Porto a ganhar por 2-1 e a conseguir um resultado muito positivo para a segunda-mão, no jogo de Londres foi o descalabro total. E não, não me tragam desculpas do ambiente, da inexperiência ou da equipa que estava do outro lado porque a contra-argumentação é óbvia: o ambiente nos campeonatos sul-americanos - de onde uma boa fatia de jogadores do Porto vinham - é, em alguns jogos, atemorizador; a inexperiência tem de ser sempre disfarçada com a motivação que existe de escrever história; a equipa do outro lado já tinha sido derrotada pelo Porto quinze dias antes. Foi o medo! Foi o medo que levou o treinador Jesualdo Ferreira a apostar em Nuno André Coelho como trinco, por exemplo, inventando um esquema trabalhado em cima do joelho para um "jogo de uma época".

Julio Cesar Fernando Torres of Liverpool scores his team's third goal during the UEFA Europa League Quarter Final second leg match between Liverpool and Benfica at Anfield on April 8, 2010 in Liverpool, England.

2. Eliminatória do último ano entre Liverpool e Benfica - O apaixonante Benfica da última temporada, visitava um Liverpool aborrecido, fatigante só de ver jogar, no declínio de Rafa Benítez nos reds. Isto depois de uma vitória na primeira mão, na Luz, por 2-1. E o que o Benfica estava a jogar por essa altura era mais, mil vezes mais - usando expressões pueris para melhor compreensão -, do que os ingleses estavam a exibir. Aí, quem devia ter medo era o Liverpool. Mas não. Eles tinham determinação. Medo tínhamos nós. Por isso é que, sob a fachada da desculpa de ser para haver mais eficácia no jogo aéreo, é que David Luiz, central de primeiríssimo nível, e sublinhe-se bem a palavra central, foi colocado a jogar no lado esquerdo. Por medo também é que o Benfica, na época, considerando o espaço de dez a quinze anos, em que mais possibilidades qualitativas tinha para conquistar um grande troféu, acabou goleado e teve uma saída inglória da Liga Europa.


3. Braga x Shakhtar Donetsk já este ano - O Braga, depois de ter sido goleado por 6-0, contra o Arsenal, na primeira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, recebia o Shakhtar Donetsk. Os ucranianos têm mais historial do que o Braga e maior poderio financeiro. Mas e daí? O Braga não tinha já dado "show" em Sevilha ou contra o Celtic de Glasgow? Não são estes os "Guerreiros do Minho" - cognome, de resto, muito bem atribuído-? Pois bem, apesar de este ser o caso menos flagrante, a verdade é que os bracarenses foram pulverizados pelo acampamento de férias de brasileiros em Donetsk com uns esclarecedores 0-3 que em nada espelha o que se passou em campo. Mas, de novo, faltou a determinação. Agora, olhando para trás, facilmente se conclui que foi aí que o apuramento ficou comprometido.

Por isso, apelo a todos os nossos representantes na Liga Europa, equipas de digníssimo valor, que percam os medos, os receios e qualquer vergonha de partir para cima dos adversários, quer para atacar, quer para defender, em honra de uma tradição de futebol portuguesa que não envergonha ninguém, mas, mais do que isso, que nos dá as bases para não temer ninguém na Europa, venha quem vier!