Queiroz pede absolvição e arquivamento


Carlos Queiroz pede o arquivamento e a absolvição no processo do "polvo". Além de considerar que o Conselho de Disciplina não é competente para apreciar o caso, a defesa sustenta que o seleccionador não praticou nenhum ilícito, em matéria desportiva ou criminal.

Num documento de quase 60 páginas, a defesa historia "o processo" e "a campanha" movida contra o seleccionador, o "julgamento sumário" na Praça Pública" que tinha, e tem, como objectivo final o seu afastamento do cargo. Uma contextualização necessária para enquadrar as declarações de Queiroz ao Expresso - arriscava um castigo de 2 a 4 anos se fosse considerado culpado! -, na base do novo processo movido pelo Conselho de Disciplina. A defesa, liderada pelo advogado Rui Patrício, lembra que a contestação a Queiroz começou logo após o Mundial. "Era o início de uma campanha, em que se vai formando um grupo de pessoas, ou melhor, vários grupos de pessoas, ligadas aos mais diversos quadrantes, que defendem a não continuidade do seleccionador". Mas a 14 de Julho, a Direcção da FPF, em comunicado, ratificava Queiroz, considerando cumpridos os objectivos mínimos.


Então entra em acção o secretário de Estado do Desporto, a 23 de Julho, ao anunciar o envio para a FPF do inquérito ao sucedido no controlo anti-doping na Covilhã. A defesa vê a sua intervenção como um "decreto" de culpabilidade de Queiroz e elege-a como "o primeiro momento fulcral" do processo. O segundo foi as declarações de Amândio de Carvalho, a 6 de Agosto, ainda o seleccionador não tinha entregue a defesa, depois de Madail ter garantido que a Direcção respeitaria a decisão do CD. Para a defesa, o vice assumiu aí que "haveria tão-só um desfecho possível no processo: a condenação e a a subsequente suspensão, com óbvias consequências na ligação à selecção". Foi neste contexto que Queiroz utilizou a palavra polvo na entrevista ao Expresso - "De início, parecia haver uma acção concertada, que começava com o processo e conduziria ao meu despedimento. E Amândio de Carvalho decidiu pôr a sua cara na cabeça do polvo" -, com o "vice" a sentir-se ofendido no bom nome e reputação, considerando-a sinónimo de máfia. Mas, para a defesa, o alegado ilícito imputado a Queiroz não é um ilícito em matéria desportiva, pelo que o CD não tem competência para o apreciar. Quando muito, se as declarações tivessem relevância jurídica, caberia ao Ministério Público e aos tribunais apreciar e julgar.

Quanto à expressão utilizada, lembra que Queiroz não disse que era a "cabeça do polvo", mas que decidira colocar a sua cara na cabeça do polvo, que quereria ou opinava no sentido do seu afastamento do cargo de seleccionador. Obviamente, polvo é uma metáfora. "Um polvo é vários num, ou, talvez, melhor, são vários que são um", diz a defesa, salientando que é uma das palavras com sentido metafórico mais rico e diverso. Recorda até o aspecto da mago, adivinho e prestidigitador recentemente trazido pelo polvo Paul, no Mundial. Por isso, considera muito redutor reconduzir a imagem do polvo à máfia. E lembra que o fenómeno mafioso está associado a ilicitude, a violência, e a ocultação, contexto nunca insinuado na entrevista. A defesa conclui que Queiroz "não praticou nenhum ilícito", nem agiu "com qualquer dolo", pois, em boa fé, reputou de verdadeiro o que disse e disse-o para "realizar interesses legítimos".