Editorial: O renascer do leão


Por estes tempos muito se fala daquilo a que se tem chamado como que o "acordar do leão". De forma menos selvagem, eu diria que ele apenas deixou de ressonar. O sono é agora mais leve. É inegável que os sportinguistas podem respirar de alívio no plano desportivo - no plano financeiro não tanto, mas já lá vamos -, porque de facto, a equipa até pode não ganhar nada este ano, mas não será por falta de talento ou qualidade coletiva. Este é um motivo para festejar, uma novidade na equipa agora treinada por Domingos que há muito não se via.

É certo que continuam as interrogações que já vão ganhando pó para os lados de Alvalade, como por exemplo, se Yannick Djaló arranca finalmente para uma temporada como parece prometer a espaços, ou se Postiga vai ser mais regular do que no ano anterior. Mas a principal certeza é que há também muitas certezas. O Sporting soube escolher bem - além de boas - oportunidades de mercado. Apostou no mercado holandês para dar a garra e qualidade de passe de Schaars e a irreverência de Wolfswinkel; no mercado sul-americano para agarrar o prometedor Diego Rubio; e ainda no mercado ibérico para segurar um patrão para a defesa, Rodríguez, e um extremo fulgurante, daqueles que apostam em sprints até à linha de fundo para tirar bons cruzamentos, falo, claro está de Diego Capel.



O segundo passo foi entretanto dado por Domingos, o qual é um especialista em algo deste tipo: pegar em massas tremendamente heterogéneas e fazer um bolo bem apetitoso. A equipa começa a ganhar engrenagens que podem pôr a máquina leonina a funcionar, os primeiros "arranhões" prometem.


Mas, e como na mais bela história haverá sempre um "mas", a parte financeira já conheceu melhores dias. Se é verdade que num instante Godinho Lopes fez aparecer dinheiro "a rodos", qual mestre do ilusionismo, é igualmente verdade que a forma como de repente alguém abriu a torneira ninguém sabe. Sabe-se sim as contrapartidas e, a curto prazo, elas podem ser desastrosas. Todos os fundos criados pelo Sporting e empréstimos contraídos têm uma taxa de juros muito penosa, sendo ela maior que o orçamento de muitas equipas da segunda metade da tabela da Liga Portuguesa. Desta forma, exige-se a Domingos Paciência e sua turma resultados imediatos para que possam ocorrer duas coisas: o Sporting possa aceder a competições europeias financeiramente muito apetecíveis - como a Liga dos Campeões - e fazer dinheiro com alguns dos ativos do clube que vã despontando.

É um risco? Certamente. Vale a pena? Fernando Pessoa tratou de responder a isso...