Rinaudo, o novo Duscher



Como é claro um vídeo não mostra tudo. Mas é certo que há um aspecto que o rapaz é perito: desarme. Seja por trás ou por rasteira, o miúdo consegue recuperar muitas bolas, quase nunca faz falta e ainda sai a jogar, seja pelo chão ou passe curto e médio, mesmo depois de rasteirar. Impressionante. Para quem não sabe, são duas qualidades dum trinco ideal. Desarme sem falta e sair a jogar através do chão e do passe (como indica o primeiro princípio de ataque).

Desarme sem falta não há muito para dizer. O rapaz entra de qualquer lado, focado na bola. Os desarmes são forçados, mas não são muito perigosos. Pode acontecer que alguém saia magoada, mas numa partida de futebol há sempre lesões.

Recuperar a bola não há muito que se lhe diga. A qualidade nesse aspecto é excelente. Mas depois de desarmar o adversário, o que fazer com a bola?



A solução mais fácil é: valorizar a sua posse. Logo após o desarme, um jogador pode retirar imediatamente a bola da zona de pressão, passando para trás por exemplo, impedindo de a voltar a perder. Rinaudo também o faz, como qualquer um. Mas logo após o desarme, muitas vezes sai a jogar. Para quem joga atrás, é um factor a juntar para o jogo colectivo. E como faz ele isso? O primeiro princípio de ataque, a penetração, diz-nos que há duas maneiras de seguir com a bola: através do passe ou em drible. Reparem no vídeo. O segundo defesa pode estar a fazer a cobertura defensiva perto ou longe do local do desarme, e por vezes, Rinaudo não sai a jogar pelo espaço no campo. No geral, a cobertura defensiva deve ser feita com o segundo defesa perto do primeiro, caso o atacante seja extremamente técnico, ou longe do primeiro defesa, caso o atacante seja hábil no passe. Existem mais factores em relação à cobertura, mas só estou a analisar estes dois. Voltando ao assunto, podemos reparar que, por vezes, o agora jogador verde e branco, tanto sai pelo passe com cobertura perto como sai pelo chão com a cobertura longe. Ou seja, a cobertura adversária está indefinida, causando alguma desorganização no seio da equipa, e permitindo à equipa atacante avançar no terreno mais facilmente.

Existem mais pormenores que podem reparar no vídeo. O jogador não corre muito com a bola. Têm bom controlo com a bola, mas se a tem nos pés, não entra muito em situações de 1x1, em que o adversário está demasiado perto. A visão de jogo está aliada à qualidade de passe. Não é um distribuidor de jogo, nem nada por ai além Escusado será o treinador fazer dessa função, uma das funções dele. No plantel actual do Sporting, têm jogadores para isso, sem ser preciso arriscar em demasia. De qualquer forma, este atleta passa bem, sempre com passes simples, e por vezes levanta a cabeça e tenta passes mais difíceis para as costas da defesa. Também o faz, que nesse vídeo existem jogadores desmarcados em ruptura a receberem bolas dele. Gosto da imprevisibilidade dele.



Raramente segue em frente em demasia e perde a bola, evitando que a equipa perca a posse de bola. Tecnicamente, ao nível da finta e do drible, não parece nada por ai além. Mas na sua posição não está em primeiro plano. O controlo de bola é bom, isso sim. Segura bem a bola. A garra a cada lance que disputa é interessante. É um jogador de garra, como o próprio disse na apresentação. É um jogador para jogar fixo atrás dos médios centro. Como sai a jogar rapidamente e de duas maneiras diferentes, a equipa pode muito bem lançar rapidamente um contra-ataque. Além disso, a equipa contrária terá certamente a sua cobertura indefinida indefinida. Se o segundo defesa está muito perto, ele passa. Se está muito longe, segue em frente, embora os lances não sejam sempre desse género.

A nível cognitivo, decide rapidamente cada lance. Podemos até observar, a partir do tempo 2:15, que o jogador passa por três ou quatro. O que está em causa não é o seu drible, mas reparem que a cada adversário ultrapassado, prepara-se para seguir em frente e já não se foca tanto no jogador que deixou ficar.

Será certamente um excelente reforço para o plantel. Em breve fará parte dos mais amados pelos sportinguistas.

Texto de Valter Correia, autor do blogue Teoria do Futebol, para o Negócios do Futebol