O Princípio da Igualdade: sim, é capaz de ser utópico


Este fim-de-semana assistimos a um novo empolamento de acontecimentos que terão visado pessoas ligadas ao Benfica. É certo que todos os actos de violência deste ou de outros tipos são de condenar, mas a abordagem feita pelos meios de comunicação social, nomeadamente os jornais lisboetas, é também alvo de reprovação, isto sem mencionar o facto de um apenas um dos viadutos não ter sido vigiado por membros policiais, o que por si só deixa algumas suspeitas no ar. Mas deixemos as teorias da conspiração de lado e concentremo-nos naqueles que são factos concretos e que merecem ser analisados com alguma atenção. Aliás uma notícia merecedora de destaque, que não esteja relacionada com o Benfica, é tão habitual como um abeto numa árida estepe russa.

Quer na tentativa de lapidação de Luís Filipe Vieira, seguindo as boas tradições mouriscas, quer na agressão que terá ocorrido a Rui Gomes da Silva, a exposição mediática de cada um destes casos foi amplamente difundida, ao contrário de outros que ocorreram com outros intervenientes referentes a outros clubes, e que por isso mereceram diferente relevo.


Ora, se bem me lembro, o apedrejamento de que foi alvo Pinto da Costa no Estoril, ou a tentativa de agressão aquando da saída de um hotel, por um adepto benfiquista, não mereceram destaques de primeira página. Por outro lado, o Record e Abola trataram de retratar de forma ávida e hiper-detalhada todos os sórdidos acontecimentos que envolveram as acções referentes aos dirigentes benfiquistas, sendo que na euforia encarnada, acabavam por cometer imprecisões, surgindo até várias versões acerca do mesmo acontecimento, no que toca ao caso da agressão/bofetada/soco a Rui Gomes da Silva por parte de um indíviduo com cara tapada por um gorro. Ou talvez fosse um boné. Ou talvez um daqueles espanpanantes chápeus com motivos frutais. O que interessa é que está nos jornais, e se foi divulgado, então é certamente verdade e aquele que ousará questionar a autoridade de veículos morais que são Abola e Record será apelidado de herege.

Por outro lado, acontecimentos de clara menor dimensão, como apedrejamento de veículos privados de presidentes de clubes de regiões nortenhas, ou a imolação de autocarros pertencentes a adeptos desse mesmo clube, num acto de reverência à Grande Águia, são amplamente abafados. Tal "esquecimento" é bastante oportuno e serve os interesses das mais altas instâncias do país, sendo por isso considerados actos de veleidade bastante apreciados, pelo menos por 60% da população portuguesa, provavelmente fãs das casas apostas online.


No entanto, existe ainda uma facção (pelo menos quero acreditar que sim) que não aceita de ânimo leve tudo aquilo que lhe é impingido por agências "noticiosas" de cariz duvidoso e tendencioso que pretendem apenas criar mais tempestades, em copos de água já saturados. Para isso contribuem também as acções de certas pessoas, que levantam suspeitas infundadas sobre treinadores em conferências de imprensa divulgadas em canais de filtro encarnado, ou simplesmente oradores que fazem uso da sua hipócrita retórico-diarreia verbal em programas de televisão, onde nada mais fazem senão instigar indíviduos de nível cognitivo equivalente ao de um suricata demente a cometer atrocidades (isto funciona para ambos os lados) das quais depois ridiculamente se demarcam, afirmando não ter qualquer responsabilidade. Isto tudo associado a Benfica TVs onde se profetizam "retaliações" e prometem banhos de sangue aos inimigos de sempre, leva, infelizmente, a um aumento de actos bárbaros no contexto de um desporto que não deveria incluir tais comportamentos.

Por isso, a dualidade de critérios existente actualmente no panorama nacional, embora pareça servir como veículo de vitimização de certas peças de um xadrez complexo que jamais um membro que lhe seja exterior poderá compreender, serve apenas para alimentar mais o escárnio que assola alguns membros mais extremistas, inevitavelmente presentes em todos os sectores da sociedade, não sendo o futebol excepção. Por isso, se querem continuar com diferentes formas de tratamento, façam-no, mas assumam-no publicamente, bem como todas as consequências que daí possam advir.

Texto de Labaredas para o Negócios Do Futebol