Monopólios e Sistemas


Na próxima jornada há jogo grande para a liga, com o líder FC Porto a ter uma das mais complicadas deslocações desta segunda volta do campeonato. Os dragões vão a Braga, tentar garantir três pontos diante de uma equipa que, para muitos, proporcionou no Dragão aquele que foi mesmo o jogo do ano em Portugal. E falando desse jogo, começaram a surgir hoje as notícias de que o Sporting de Braga apresentará provavelmente três baixas de voluto para esse encontro: nada mais do que Ukra, Lima e Sílvio (aos quais há, ainda, que juntar as dúvidas Elderson, Vandinho, Custódio e Paulo César). Ora, pode ser só de mim, mas parece-me que existe aqui um denominador comum.

A dias da deslocação dos portistas, é anunciado que um "azul" emprestado aos arsenalistas, e mais dois jogadores referenciados (sendo que, um deles, terá inclusivamente um pré-acordo com o Porto) não deverão entrar nas contas de Domingos quando o treinador anunciar a convocatória para a complicada recepção. Coincidência? A verdade é que é difícil contornar as evidências de uma "monopolização" sombria feita pelos grandes aos mais "pequenos". Casos de equipas que emprestam jogadores pouco utilizados a outros emblemas do campeonato estão longe de ser uma raridade, mas até que ponto deve isso acontecer com tanta regularidade como a que se verifica?


Não parece existir nada de errado com o simples facto de querer proporcionar uma maior rodagem aos que não têm lugar em equipas com plantéis mais extensos como FC Porto, Benfica ou Sporting; o que preocupa é que quanto mais acontecem situações do género, mas se confirma a falta de inocência nestas diásporas recorrentes. O Futebol Clube do Porto sempre cultivou uma política de comprar barato e vender caro. Uma filosofia assim tem a óbvia consequência de o jogador, aquando da sua aquisição, não render tudo o que se espera que renda no futuro. Isto leva a que seja implementada uma gestão da "mão-de-obra" de acordo com as necessidades e restrições da ocasião: se um jogador não tem lugar, dá-se preferência ao empréstimo. Qualquer adepto (como eu, admito-o) aprecia este tipo de atitudes. Não vale a pena um jogador estragar-se a aquecer bancos e a fazer 5 minutos por jogo. Mas importa ter a noção de que, em termos competitivos, esta política não beneficia a modalidade no nosso país, muito menos quando o campeonato por si só parece já uma luta a dois/três nos últimos anos. De novo, convém reafirmar a inocência aparente desta ideia de gestão quando isolada de interesses, mas com situações do género da referida acima a acontecer sucessivamente, é de esperar que pelo menos alguém estranhe as coincidências.


E contudo, chega-se por vezes a um novo cúmulo. Há algumas jornadas atrás, foi possível admirar um jogo de interesses ainda mais desprovido de escrúpulos, protagonizado pelo campeão nacional. Jardel, recentemente contratado pelas águias, era ainda jogador da Olhanense quando, no mês passado, o Benfica se defrontou com os algarvios. E onde estava Jardel? Nem de um lado, nem de outro. Pura e simplesmente ausente. Esta menção vem apenas no seguimento de alguns comentários que ouvi nos últimos anos em relação ao facto de o Porto emprestar da forma que empresta, feitos por quem pretende apenas desdenhar o clube. Não que a SAD portista esteja isenta de culpa, longe disso (como foi já referido), mas como normalmente se diz, "quem tem telhados de vidro não atira pedras ao do vizinho". Importa sim referir que isto é algo que deve ser regulamentado pela Liga, já que, no que depender dos dirigentes, é cada um por si. Por exemplo, limitando o número de empréstimos dentro do mercado nacional, de forma a garantir que não se torne abusiva a influência de uma equipa em relação a outra (ao ponto de metade ou mais do plantel de um "pequeno" pertencer, na realidade, a um "grande"). Em relação ao segundo caso, a situação complica-se. Exigia-se mais nível e isenção dentro do futebol. Eu cá não acredito em milagres ...