Olhar sobre o Benfica


Mais uma derrota dos campeões, mais um texto com críticas. Parece que só sei dizer mal mas, infelizmente, não existe grande coisa para elogiar neste Benfica. Isto apesar de ontem, pelo menos na segunda parte, já ter visto um pouco do “perfume” da época passada. Mais dinâmica, futebol mais elaborado ofensivamente (pelo menos até chegar a Cardozo, mas falarei dele mais tarde) e bem mais perigoso.

As melhorias ofensivas não chegam e são já 6 golos sofridos em 3 jogos. Mas não se pense que a culpa é da nossa defesa, esta continua forte e a cometer poucos erros, a culpa é sim da maneira como a EQUIPA defende, porque o segredo de uma boa defesa é e sempre será esse. No ano passado, a defesa do Benfica limitava-se a segurar bolas filtradas pelo seu meio campo e, por vezes, tinha que fazer uns desarmes mas com os adversários em esforço pois raramente vinham com a bola controlada e com apoios da própria equipa, isto porque simplesmente, o Benfica não deixava jogar! Este ano permite ao adversário jogar visto que não exerce pressão como exercia na época passada e formam-se buracos no meio da equipa, quero com isto dizer que existe muita distância entre linhas tanto a atacar como a defender, portanto, a equipa não joga como um bloco, que era talvez das melhores definições que se podia dar ao Benfica 2009/2010.

Como sempre no futebol, a culpa disto só tem um nome que, neste caso, é Jesus e vou explicar porquê. Para já, vou descartar imediatamente a saída de Di María e de Ramires como razão para o insucesso, razão esta demasiadas vezes apontada por muitos. Se reflectirmos bem, o Benfica fez muitos jogos sem Ramires a época passada e ganhou-os, por isso não há razão para não o fazer este ano. Quanto a Di María, a sua influência na equipa sentia-se muito mais a nível ofensivo do que defensivo, ora se nestes dois jogos não sofrêssemos golos, como acontecia na época passada, teríamos ganho ambos por 1-0. A culpa é, portanto, do treinador, mas porquê? Por duas razões: falta de humildade e teimosia.

Falta de humildade porque deixou de treinar aspectos básicos e importantes na equipa e exemplo disso é o caso das bolas paradas defensivas. Começou a época com marcação à zona tal como na época passada mas rapidamente se percebeu que esta forma de defender não estava automatizada e o Benfica sofreu 2 golos de bola parada em 2 jogos. E o que fez Jesus? Treinou a equipa de forma a recuperar esse automatismo que tanto sucesso teve? Não, resolveu ir pelo caminho mais fácil e pôs a equipa a defender com marcação homem a homem como se viu ontem. Não é necessário treinar, simples de se pôr em prática, responsabilidade individual, não cultiva o espírito de entreajuda e parece-me claramente que não é tão eficaz.

O momento em que o Benfica sobre o primeiro golo (foto ASF)

Teimosia porque Jesus está a falhar em três pontos, sabe que o faz mas continua a insistir. Primeiro ponto é Roberto, sou da opinião que tem potencial e que está a ser injustamente culpado de todos os golos que sofre, mas também não posso deixar de reparar que, não tendo culpa em todos, teve em alguns. Demonstra muita falta de confiança, que se transmite aos colegas, aos adeptos e impõe algum nervosismo na defesa. Sei que JJ pretende dar confiança a Roberto mas chegou a um ponto em que só está a piorar a situação e não está a ajudar em nada, tanto o guarda-redes como a equipa. O segundo ponto é Cardozo, devo confessar que nunca fui grande admirador deste jogador, não tem qualidades que aprecio num avançado tais como técnica (e como técnica entenda-se qualidade de recepção, qualidade razoável de passe, saber como proteger a bola), velocidade, criatividade e nem sequer é um finalizador nato, especialmente no um para um com o guarda-redes, precisando de várias oportunidades para marcar. Claro, vão dizer que não posso estar a falar a sério, que o Cardozo na época passada marcou 39 golos! Pois eu digo que, com o volume ofensivo que o Benfica tinha e com a quantidade de oportunidades que criava por jogo, um ponta de lança mediano, sendo referência na área, conseguiria certamente marcar 30 golos ou mais ainda. É certo que não posso negar que Cardozo tem alguma qualidade mas neste momento é um “peso morto” na equipa, na qual cada bola passada para ele é uma bola perdida.

O terceiro ponto é Carlos Martins. Toda a gente viu a pré época que fez, os golos que marcou. Está bem que jogou mal contra o Porto e por isso foi para o “banco”, mas, sendo assim, e para ser coerente, Jesus tinha que mudar toda a equipa porque ninguém jogou bem, inclusive Coentrão enquanto extremo. Ontem demonstrou que continua em boa forma e tem uma qualidade, que voltou a dar frutos e faz falta a muitos jogadores, que é a de nunca perder a baliza de vista, tendo a oportunidade, remata (e bem) e assim se criam situações perigosas e se mete o adversário em “sentido”.


Não percebo o porquê desta teimosia, não sei se é devido a outros interesses, tais como o investimento feito (no caso do Roberto), ou pelo “peso” ganho por jogadores dentro da equipa (no caso de Cardozo), mas uma coisa sei e sabe também Jesus: no final das contas, é sempre a cabeça do treinador que rola! Por isso deverá ser melhor esquecer esses interesses e teimosias e voltar a trabalhar como trabalhava porque o Benfica e a sua massa associativa não são conhecidos pela sua paciência e tolerância.

Texto de André Ferreira para o Negócios do Futebol