World Cup: Day 15


Ontem Portugal jogou contra aquela que para mim é a selecção mais forte do futebol mundial. Tão forte, que faria 3 equipas e ainda assim a 3ª era candidata ao título. O Brasil é o futebol… para mim é “O candidato” ao título! O Brasil chegou a este jogo com 2 vitórias, o apuramento garantido… e em caso de empate assegurava a 1ª posição.

Portugal chegava com uma vantagem de 9 golos face à Costa do Marfim, podendo perder até este jogo. No entanto, só a vitória poderia assegurar-nos o primeiro posto. Daí que entendo que na primeira parte estivemos à espera e espreita do que faria a Costa do Marfim, para depois, sentindo segurança, atacar e tentar vencer para chegar a primeiro. Foi o que aconteceu quando se viu que a vantagem de golos era suficiente para relegar os Marfinenses. O mais importante era mesmo não perder moral e a confiança que os recentes jogos transmitem… para isso era importantíssimo não perder, não sofrer golos, acima de tudo não dar imagem de insegurança defensiva. Para aqueles que durante décadas falaram jocosamente sobre vitórias morais… era o que menos se pretendia: Portugal a jogar bom futebol, futebol espectáculo, futebol atacante, criativo, aberto… e perder com o Brasil!

Portugal entrou em campo com vária alterações, tal como o Brasil. O GR é o de sempre: Eduardo, centrais: B.Alves e R.Carvalho, lateral esquerdo: Coentrão, lateral direito: R.Costa. No meio campo Meireles, Pepe, Tiago, Duda. Na frente Danny e Ronaldo.



Tacticamente a defesa a 4 fazia um 5 com o recuo do Duda e a derivação de R.Costa. No meio campo Pepe e Meireles eram os mais defensivos, com uma suposta segunda linha de Duda, Tiago e Danny. As 2 linhas permitem fechar melhor o centro do terreno, povoando várias linhas para impedir o jogo progressivo, curto e tecnicista do jogo brasileiro pelo centro do terreno. Danny e Coentrão, Duda e R.Costa faziam duplo papel defensivo para fechar as linhas às entradas dos laterais Maicon, M. Bastos ou D. Alves. Na frente, demasiado só, C.Ronaldo. As transições dificilmente saíam com este futebol amarrado tacticamente por ambas as equipas. O Brasil também não se coibiu, inteligentemente, de parar as saídas Tugas por variadíssimas faltas no meio campo.

Na segunda parte o jogo abriu um pouco ambas as equipas conseguiram dar alguma largura e profundidade aos movimentos. Ainda assim sem grandes oportunidades de golo. Ronaldo foi ontem o avançado solitário. Foi a aposta numa saída rápida para o contra-ataque, mas o Brasil soube contrariar. Insistiu demasiado em remates longos e em exageros individuais. Pode melhorar a sua actuação nesta posição, mas é sem dúvida uma opção muito válida para o jogo contra a Espanha. São até 2 equipas parecidas em muitos aspectos individuais e colectivos.

Já na primeira parte se vislumbravam as críticas ao estilo e estratégia da equipa, às opções do treinador… ao treinador… Mas nestas coisas é mesmo assim… os críticos de sempre vão aparecer para criticar tudo o que acontece, e não há volta a dar. A cresce a isto que os consumidores esporádicos de futebol, por alturas de torneios europeus ou mundiais, não entendem parte do fenómeno, nomeadamente a componente estratégica e táctica. Convém relembrar que se jogássemos aberto, e de forma atacante, e se levássemos uns 3 ou 4 deste Brasil a Costa do Marfim podia também marcar 4 ou 5 aos Coreanos e aí… xau mundial!



Antes do Mundial criticavam-se as escolhas, depois coma situação Nani disseram que o grupo ia desabar e que ia ser pior que Saltilho, depois porque Deco disse aquilo que todos viram que era verdade, depois porque o grupo estava desunido do treinador, depois porque empatamos com a Costa do Marfim e não íamos a lado nenhum, depois porque a Coreia ía defender muito bem e nós não tínhamos capacidade atacante para lá chegar, depois porque era o Brasil pentacampeão e íamos ser goleados de novo… agora porque só empatamos com o Brasil e porque a toda poderosa Espanha nos vai destroçar na terça-feira… e digo eu que ainda vão haver mais criticas durante este mundial!

Fosse este esquema bafejado ligeiramente pela sorte e por um maior acerto do árbitro e teríamos eventualmente vencido este Brasil à estilo Mourinho… bastava que Meireles tivesse rematado com o pé esquerdo. Para mim este é o Portugal mais equilibrado, culto e tacticamente trabalhado que me lembro. Este Portugal vencia o Euro 2004 (nomeadamente a Grécia) com o perna às costas… a brincar. Não estou a ver o Queirós a dar as instruções para os lances de bola parada na manhã da final! A defesa tem estado muito bem e levamos já 19 jogos consecutivos sem perder e com muito pouco golos sofridos desde Novembro de 2008. Sei que há muitos que não gostam… mas eu aprecio esta racionalidade, equilíbrio e consistência. Se este estilo e modelo poderiam ser um pouco desadequados para a fase de grupos, são perfeitos para a fase a eliminar… seremos nós a Itália deste torneio, só falta a eficácia atacante. Deixo ainda um elogio ao Prof. Queirós, que não é perfeito, mas tem na componente estratégica e táctica uma das suas maiores virtudes, veja-se o comportamento do Manchester desde a sua saída! Tem ainda um poder de organização e sistematização dos conhecimentos vanguardista e muito acima dos demais. Falta fibra, garra, emotividade para a praça pública… mas pelo que se vê do banco de suplentes não lhe deverá faltar no âmbito do grupo de trabalho.

De facto a equipa entrou em modo de espera. Ficámos a primeira parte a perceber que Brasil era aquele, se éramos tão fracos como os detractores do Queirós dizem, ou se o Brasil é tão poderoso como o pintam. O jogo endureceu de parte a parte, com vários lances feios e descabidos… mas mesmo aí conseguimos mostrar da raça que somos feitos e não nos amedrontámos. Houveram alguns excessos, especialmente por F. Melo, que foi precocemente substituído ainda antes do intervalo, pois Dunga já percebia que deveria ter sido expulso.



O árbitro também perdeu por completo o controlo do jogo. Titubeou entre o excesso, o exagero e o ridículo. Amarelou quem não devia por situações menores como reclamações ou faltas não perigosas e depois contemporizou nas faltas mais violentas.

Um parágrafo para o Brasil. Tem uma equipa muito forte e equilibrada como se espera. Tem uma qualidade que eu registo como grande factor para o seu sucesso: sabe jogar mal, sabe fazer faltas, saber ser duro e feio, sabe esperar e depois sair para o contra-golpe… Italianizou-se sem perder a óbvia qualidade individual dos jogadores.

Quanto à restante jornada: Espanha vence com todo o mérito e é o nosso adversário. A Suíça desilude não vencendo as Honduras, qualifica-se o Chile, que demonstrou muito melhor qualidade futebolística.

Texto de Nuno Silva para o Negócios do Futebol