"Qualquer dia ainda se magoa alguém": jogadores temiam um Caso Nani


O Caso Nani obrigou Carlos Queiroz a pôr fim ao momento de descompressão que encerrava os treinos. E o que era esse momento? Bom, a coisa durava uns minutinhos e funcionava mais ou menos assim: os jogadores punham-se na carreira de tiro e tentavam marcar o melhor golo do dia. Fosse num remate, numa acrobacia aérea ou num toque de magia, todos iam tentando a sua sorte. Até Nani abusar da dele e cair no azar na sexta-feira passada: geriu mal um pontapé de bicicleta, deu uma queda feia e ficou agarrado ao ombro esquerdo.

Se dúvidas houvesse, o azarado Nani serviu de exemplo - as brincadeiras podem sair caras. A ele, que perdeu o Mundial, e à selecção, que perdeu um dos seus melhores jogadores num acto lúdico promovido pelo seleccionador para reforçar índices de motivação. Porque se há algo que o futebolista-artista gosta é de jogar bonito, dar show e mostrar o último truque do seu arsenal. Às vezes, pode correr mal, como Robben já o tinha demonstrado num toque de calcanhar mal medido num particular da Holanda com a Hungria. Agora, é a vez de Nani. E ele está desolado. "Foi uma infelicidade que pode acontecer a qualquer um, mas a vida continua. Confio nos companheiros e sei que a selecção vai fazer um grande Mundial", disse ontem Nani, à margem de uma acção da comitiva nacional, que fez um safari em Joanesburgo.

A verdade é que já havia jogadores a alertar para o risco da brincadeira. "Qualquer dia, ainda se magoa alguém", comentavam entre eles. Cada um fazia o golo à sua maneira. Se Nani gostava do espectáculo, Cristiano Ronaldo, por sua vez, preferia pôr à prova o seu potente remate - contra Moçambique, o terceiro golo português nasce de uma má defesa do guardião Lamá a um tiro dele -, não fosse ele o autor do "Tomahawk". Bruno Alves, filho de um brasileiro, adepto do futevólei e conhecido pela extraordinária impulsão, dava também alguns ares de sua graça pelo ar. Mas as notas artísticas mais altas eram dadas a Nani, que faz das acrobacias uma forma de expressão. O jovem extremo praticou capoeira durante anos e a cada golo costuma celebrar com piruetas e flick-flacks. in ionline