Índice de Crash: Brasil vai perder o Campeonato do Mundo

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No último mês surgiram diversos "estudos" realizados por alguns bancos de investimentos internacionais (JPMorgan, Goldman Sachs, Morgan Stanley, etc) analisando possibilidades de países serem campeões na Copa do Mundo de Futebol 2010. Insistem em fazer previsões sendo que a mais importante no que se refere a crise econômica não foram capazes ( ou não quiseram) de acertar. Bem, se eles podem fazer previsões que se tornam divertidas e cômicas, por que não podemos fazer também?

Dois estudantes nos enviaram relatórios extensos sobre as previsões e em todas, o Brasil será campeão. Todo tipo de estatística possível e análise de tendências foram aplicadas. Até um amigo dos EUA nos enviou artigo extenso sobre um desses bancos fazendo a previsão de que o Brasil será campeão.

Resolvemos entrar na "brincadeira" e no assunto do mês. A primeira coisa a ser feita é escolher um tipo de estatística para poder fazer o efeito de previsão se tornar sério. Escolheu-se então o índice da FIFA para medir e criar um raning dos melhores do mundo. Desde 1993 a FIFA criou esse índice que pontua os países por suas atuações em campeonatos e amistosos reconhecidos pela entidade. Uma explicação rápida e as classificações dos últimos anos pode ser encontrada na internet. As pontuações são dadas por vitórias em jogos internacionais, pela importância da partida, pela classificação dos times, pelo número de gols, pelo período de declínio de um time, etc. Os detalhes podem ser encontrados no site oficial da fifa.

O Brasil ocupa a primeira posição do ranking divulgada nesse mês de Maio de 2010, conforme tabela completa que pode ser encontrada no ranking oficial.


O índice criado para esse ranking muda bastante a cada quatro anos em função dos resultados da copa do mundo. Um gráfico do índice pode ser visto saltando por exemplo, de pontos ao redor de 70 para 800 de Dezembro de 1998 para Janeiro de 1999. O mesmo acontece quando se observa os dados de Abril de 2006 para Maio de 2006. O índice muda (para todos os times) de valores ao redor de 800 para 1600. Isso é devido a mudança da metodologia, mudança de considerações, pontuações devido a campeonatos regionais, intensidade de amistosos ou mesmo para uma melhor adequação da FIFA.

O que fizemos então foi manter esse índice sem as mudanças. Calcula-se qual foi o fator de mudança dos valores e multiplica-se pelo dado anteiror para manter sempre o mesmo valor padrão. Então, indo direto até o site oficial da FIFA, com o arquivo de índice escolheu-se o Brasil desde 1993. Com o conjunto de dados, repete-se os mesmos cálculos explicados sobre o IMA (índice de mudanças abruptas), ou seja, primeiro encontra-se a linha de tendência. Depois subtrai-se os valores do índice da FIFA desses valores. Após isso encontra-se o melhor ajuste sazonal e faz-se nova subtração. Então com o "ruído" usa-se as wavelets.

E que resultado esperar do Brasil? O leitor poderá observar o resultado do IMA-crash abaixo junto com os dados originais do ranking da FIFA.


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A linha vermelha é o IMA-crash baseado nas wavelets e a linha preta são os dados ajustados da FIFA para o Brasil. O lado direito do gráfico é o "potencial" de virada dos dados originais do ranking. Quanto mais próximo a 1, maior a chance de cair. O eixo x mostra o tempo em meses. Pode ser observado que 5 anos após o índice existir (dado número 60 no eixo x), no caso do Brasil o IMA-crash acusava uma virada forte para baixo. O ano foi 1998 quando o Brasil perdeu a Copa do Mundo da França. Quando os dados do eixo x chegaram próximos a 100 o IMA-crash estava em zero, indicando que o período de queda tinha terminado. Esse ano foi exatamente em 2002 quando o Brasil foi campeão. Mais 48 meses em 2006, quando o eixo x marca 148 o IMA estava novamente no máximo e o que aconteceu? O Brasil perdeu para a França e não foi a final.

Antes das eliminatórias da Copa do Mundo de 2010 o IMA estava em zero e o índice do Brasil estava muito baixo. A seleção brasileira estava inclusive longe do primeiro posto de melhor do mundo. No período das eliminatórias e da Copa das Confederações a seleção brasileira arrancou e evoluiu de forma a conquistar o direito de ir a copa, foi campeã da Copa das Confederações e recuperou nesse ano de 2010 o posto de número 1 do ranking. Pode ser observado então o que acontece com o IMA-crash, a linha em vermelho. O valor do IMA está em quase 0,3 para Maio de 2010, antes do início da Copa.

Como o índice da FIFA está sempre defasado e é medido com um mês de atraso, durante a copa, sobretudo a primeira fase o Brasil deverá passar pelos adversários. Mas quanto mais vitórias tiver, maior será seu índice da FIFA e maior será o IMA. O que vai acontecer? Antes do fim da Copa do Mundo poderá acontecer uma mudança abrupta do índice para baixo, ou seja, com o IMA próximo de 1, estará indicando que o Brasil deverá cair no ranking da FIFA. Logo, a seleção brasileira de futebol não será campeã nessa Copa do Mundo.


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Em termos de espectro de freqüência é só olhar o lado direito do gráfico anterior. As altas freqüências estão começando a dominar o ranking da FIFA e com esses jogos atuais já devem estar ainda mais freqüêntes. Quanto mais branco e mais embaixo, maior a freqüência da oscilação do índice da FIFA.

Para o índice chegar em 1,0 basta o Brasil vencer e bem. Quanto mais vitórias e maior o saldo de gol, maior o índice da seleção. E isso vai ocasionar mais rápida queda e consequentemente eliminação da competição.

Qual a validade dessa afirmação? Meramente discursiva e nesse caso, sem padrão científico. Apenas um teste para comparar quem vai acertar no bolão da Copa do Mundo. Os grandes bancos de investimento com centenas de operações e índices estatísticos ou o IMA? Particularmente eu gostaria de ver a seleção vencer, visto que o povo com renda mínima precisa dessa esperança de um mundo melhor. A seleção de futebol para a população mais pobre é realmente a "pátria de chuteiras" e uma válvula de escape. As torcidas são diferentes e atuam diferentemente.

A população de alta renda também torce e se motiva, mas sabe que no dia seguinte tudo volta ao normal, tem seu trabalho, sua empresa para tocar e a vida segue. Para a população de baixa renda, perder significa que não somos os melhores do mundo, e se nem em futebol conseguimos vencer, então a vida difícil vai continuar por muito tempo de forma "desgraçada" e com alma pequena, com complexo de inferioridade.

Essa "contaminação" da população sempre existiu e começou de fato com os governos populistas que incentivavam esse "amor" pela seleção canarinho como forma de desvio da situação. Foram demasiadamente inteligentes pois todo mundo vai esquecer os problemas quando a seleção entra em campo, quando o hino nacional começa a tocar. Mas se acirrou mais a partir de 1982 quando como uma forma de pedir democracia, o futebol arte foi resgatado pela geração de Sócrates, Falcão e Zico. Era a época da "democracia" corinthiana, que de forma indireta era usada pelo doutor Sócrates para "cutucar" o regime militar. E o futebol era realmente belo.

Convido a todos a assistir no youtube a bela vitória do Brasil sobre a Argentina. Apesar de Maradona estar em campo, não se ouve seu nome nas narrações, a não ser em sua expulsão pela agressão ao jogador Batista.

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E então isso virou moda e febre. Não exatamente, pois isso virou foi muito dinheiro. Um prêmio de 30 milhões de dólares para a seleção vencedora é muito mais do que reconhecimento do esporte. É uma afronta a atual situação mundial. Estádios da ordem de 1 bilhão de dólares com a desculpa de gerar empregos envergonha mais do que nos orgulha. Ainda mais na África que possui os índices de Aids mais altos do mundo. A FIFA doou algum montante financeiro para vacinas de pólio, para evitar que crianças fiquem paraplégicas? E a fome? Algum fundo contra a fome foi criado? Não.

A imagem mais marcante da Copa do Mundo de 1982 foi a imagem mostrada a seguir. Eu mesmo me senti como ele naquele dia de 1982.


O fotógrafo captou o momento marcante para todo país. O choro desse menino que hoje já é pai de família foi a representação do que toda uma nação sentia diante da derrota para a Itália de Paolo Rossi. No entanto hoje, até mesmo o menino daquela época percebe que seu choro ainda deveria existir, mas por causas mais importantes. Se esse choro fosse pela opressão dos militares, pela falta de educação do país, pela fome, pelo abandono da população, talvez hoje o Brasil fosse campeão do mundo em dignidade.

Quando o técnico da seleção brasileira pede "comprometimento", pede "patriotismo" sempre nos perguntamos: Qual o comprometimento desses cidadãos que possuem salários da ordem de 1 milhão de reais por mês? Não apenas com doações de alimentos, mas comprometimento com a política do país, do ensino, da saúde. Por tudo isso, o que o IMA-crash mostra sobre nossa seleção pouco importa. O que ele deveria representar é que precisamos, como país, ter uma mudança abrupta de nossa condição humana.

Texto de Marco Antônio Leonel Caetano, matemático e professor do Insper