Ponto de situação: Porto e Jesualdo!


Pois bem… de “fuzil” na mão, aqui vai!

Preferi deixar estas “metralhadas” para escrever de cabeça fria, para que tenha a certeza que não escrevo asneira e que de facto reflecte o meu pensamento / sentimento.

Depois de meia dúzia de jogos em crescendo, que culminaram em 2 grandes jogos, dá-se a hecatombe com o SCP, Olhanense e Arsenal.

E agora? O que fazer? … NADA! A época está completamente perdida. Despedir o treinador seria fácil demais e desresponsabilizava quer jogadores quer administração… e cada um tem a sua cota parte de culpas. Além disso, em termos de psicologia de grupo é preferível deixar a equipa afundar-se com o seu treinador do que deixar um plantel por sua conta e risco a falhar no resto da época e a arcar com todo o ónus e consequência da má preparação e planeamento que foi alvo. Depois da época terminar sim… atira-se a culpa para o treinador e ambos pela rua fora… pela porta mais estreita do Dragão.

Mas a responsabilidade não é só do treinador e vamos começar de cima para baixo.

A administração é em primeira instância a responsável. O Sr. Jesualdo chega por mão da SAD como a solução para o problema Adrianse, e é aí que tudo começa. Depois de Rui Barros ter vencido a Supertaça, o Sr. Jesualdo faz uma época razoável cumprindo a missão de, com falta de tempo e com a competição a começar, manter a equipa num nível alto para vencer internamente e ser bem sucedida a nível internacional. Cumpriu, apesar da qualidade futebolística não encantar, nunca encantou.



Mas Jesualdo teve um outro mérito… e apenas um. Foi o substituto, para fora, enquanto comunicador, do PdC. A SAD encontrava-se em 2008, e ainda se encontra, refém da situação que envolve o PdC, os apitos dourados e finais, e dos castigos da Liga. O Jesualdo não é culpado disso… é a SAD! O SR. PdC deveria ter mais cuidado com quem se relaciona, como se relaciona e o que lhes permite saber que possa ser prejudicial ao clube… assim não o fez. Ainda no que diz respeito à SAD, a politica de menosprezo das camadas jovens, do mercado interno Português entronca na aposta num treinador que por ser demasiado SADista… ou sádico, nada faz para contrariar a SAD. O Sr. Jesualdo também não é culpado disso.
É culpado sim de deixar que o seu estatuto de treinador não lhe permita resmungar internamente, contrariar a administração e aceitar tudo o que lhe põem no plantel. Aliás permito-me pensar que usufrui desse estatuto de não demitível, precisamente porque na ausência de qualidade futebolística, é de facto o treinador que a SAD necessita para realizar os negócios que pretende e para cobrir a grande argolada em que se meteu o PdC. As suas renovações foram provavelmente o prémio pelo desempenho em parceria com a SAD e muito pouco pela qualidade futebolística e apoio dos adeptos.

Antes de se escolher o novo treinador deverá ter que se fazer uma breve, porque tempo não abunda, mas profunda reflexão dentro da SAD. É necessário perceber qual vai ser a estratégia do clube para os próximos anos, especialmente o 2010/11, sem a Champ’s e a respectiva receita milionária e montra. São algumas as hipóteses: continuar a efectuar compras para especular, comprar barato no mercado nacional, apostar em promover jovens das camadas jovens (o que é feito do projecto 611?!), ou fazer uma aposta forte em valores seguros no mercado internacional? O treinador terá que ser escolhido necessariamente em função desta estratégia.



Mas outra coisa deve ser levada em consideração. Deverá o Porto continuar com uma política de aquisições que mantém na posse de outros (empresários, investidores ou clubes) percentagens avultadas dos seus direitos desportivos? Claramente não. A opção de um fundo de jogadores como o do Benfica é claramente uma opção mais segura. Desde logo porque dissolve a propriedade dos atletas num todo e não individualmente e porque essa propriedade é partilhada por diversos investidores e não apenas um. Sabemos nós que muitos empresários, pais ou clubes que mantêm percentagens do valor dos atletas, pressionam forte e publicamente os clubes que detêm o usufruto do jogadores e isso destabiliza bastante o jogador, a equipa e até mesmo a capacidade negocial do clube. Já o fundo não o fará tão directamente, e terá maior proveito do rendimento efectivo do clube. No entanto, devo dizer que sou fortemente contra a lógica de fundos, empréstimos obrigacionistas, vendas de património, cedências antecipadas direitos desportivos ou publicitários e do endividamento… em várias ligas já se começa a perceber os efeitos desta desregulamentação… é uma bolha em tudo semelhante a tantas outras mas com a agravante de não ter valores imobiliários ou patrimoniais para poder suprir uma situação de incumprimento. Defendo a regulamentação e restrição, mas até lá temos que lutar com as armas que se podem dispor.

Relativamente ao treinador, vou passar de raspão… não quero ser intensivo, ia demorar demasiado! Já escrevi por várias vezes. Fico-me apenas pelo mais importante: é medroso, é teimoso, é mediano, é lento a ler o jogo e a reagir, é monocórdico no discurso, nas equipas e nas substituições. Não é um valor acrescentado para o clube e equipa, não vence jogos. O melhor que sabe fazer é abster-se de inventar e prejudicar a equipa. Defendo que devia ser demitido no final do primeiro ano, mas compreendo o voto de confiança. Mas ao fim do segundo ano já tudo tinha se visto: futebol fraco, pouco vistoso (mesmo em casa), equipas defensivas e sempre em transições rápidas seja qual for o adversário, equipas que não sabem ter a bola, não sabem pressionar alto… O 4-3-3 invariável a perder os jogos grandes e a levar lições de táctica dos adversários directos. Ainda bem que o seu ciclo está a chegar ao fim. Em poucas palavras, fica ao nível de Quinito e mesmo assim pior que Octávio e Ivic. Fez com que muitos adeptos do Dragão aprendessem a assobiar! Deve ficar até ao final da época para arcar com o peso da responsabilidade e do insucesso e sair pelo próprio pé e sem indemnização, se for um senhor. Descobri-lhe recentemente o pior dos defeitos: é cobarde e atira para os atletas as responsabilidades de tudo o que corre mal!
Falar dos atletas nestes últimos 4 anos é falar de Hélton, Pepe, Bruno, Bosingwa, Fucile, Cissoko, Álvaro, Assunção, Fernando, Anderson, Lucho, Meireles, Quaresma, Hulk, Lisandro, Falcão, Rodrigues, Varela… etc. Se é certo que muitos jogadores foram vendidos, é certo que muitos jogadores de qualidade estiveram disponíveis no clube. Quando se diz que o Jesualdo foi responsável pelo crescimento destes jogadores, é só ver o rendimento deles na fase pós FCP: continuam em alta e muitos deles com rendimento individual ainda superior ao que se sabia, a excepção é o Quaresma pelos motivos óbvios que já lhe conhecíamos. Reconheço no plantel muita qualidade e alguma falta de banco durante todos estes anos, mas a culpa não é dos atletas. Quem escolhe ou aprova as aquisições? Apesar da constante perda de jogadores parece-me que a equipa foi capaz de manter alguma mística, o que é notável… mas a culpa não é deles! É da política de aquisições para especular.



Sente-se no entanto, que desde a época anterior muitos dos atletas já não estavam com o treinador. E pergunto: quem fez de alguns, jogadores insubstituíveis e com importância e status que não deveriam nunca ter!? A falta de empenho e motivação que assola a equipa por períodos, é algo que se pode e deve apontar e que talvez esteja relacionado com esse sentimento de impunidade face às opções do treinador. A este nível não é permitido que o atleta se deixe afectar pela politica de vendas do clube ou pelo empresário. Queria, no entanto deixar uma questão: o que pensam os atletas ao verem o treinador a colocar um jogador que nunca tinha jogado na Liga ou na Champ’s, numa posição em que nunca tinha sido testado e onde nunca jogou!? Que pensam destas invenções frequentes e que antevêem o insucesso!? Deve ser muito estimulante para um atleta… muito motivador! Vamos ainda chegar à conclusão que alguns daqueles sul-americanos que agora criticamos são de facto bons jogadores, noutro contexto, e treinados com outros métodos ou processos.

Jesualdo vem agora falar em lesões e outras desculpas… mas esquece que estamos sensivelmente ao mesmo nível (qualitativo e pontual) da época anterior, sendo que temos um dos melhores departamentos médicos desportivos da Europa, que nos permitiu ser o clube com a menor percentagem de atletas indisponíveis por lesão durante a época 2009/10. Obrigado à respectiva equipa.

Faltaria falar dos adeptos… mas o que dizer senão felicitar a fidelidade ao clube. Agradecer os adeptos para se deslocarem ao Dragão é justo e merecido. Que motivação tem um adepto para enfrentar o frio, a chuva, o tédio de ver jogos repetitivos e desinteressantes, jogos que terminam porque a equipa desliga ao segundo golo (senão mesmo ao primeiro)… Amor ao Clube! E mais: os adeptos bem avisaram que não gostam do Jesualdo, das suas opções e da qualidade e estilo de jogo da equipa.

Texto de Nuno Silva para o Negócios do Futebol