Diria a razão que o campeonato já estava perdido, que era necessário apostar noutras frentes. O coração, contudo, mantinha a esperança. Uma réstia, um fio, mas ainda lá continuava. Não há equipa invencíveis, todos podem escorregar, por vezes onde menos se espera, o Benfica e o Sp.Braga poderiam perder pontos e o FC Porto chegar ao primeiro lugar. Ao seu sítio nos últimos quatro anos, incontestavelmente. A fé ainda se mantinha. Jesualdo Ferreira foi racional: com o aproximar do jogo com o Arsenal, da segunda mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, fez descansar Raúl Meireles, Rolando e Fucile, titularíssimos nos portistas e utilizados, a meio da semana, em jogos das suas selecções - Varela também não esteve no onze inicial. Amplamente favorito, ante o Olhanense, o FC Porto quebrou. De novo.
Um dos principais problemas deste FC Porto está no facto de dar espaço de manobra ao adversário. Não entra com agressividade, empurrando o adversário a partir do apito inicial, procurando o golo rápido, algo que era seu apanágio. Jogando no Dragão, sobretudo, é impensável que os dragões dêem avanço ao opositor. Fizeram-no com o Olhanense. Tal como já haviam feito com Belenenses e Paços de Ferreira. Adormecidos, envoltos no ritmo contrário, com um futebol em banho-maria, pouco discernimento e capacidade de simplificar. Em casa dos grandes, qualquer adversário de menor envergadura joga fechado, de forma pragmática, um empate sabe a vitória. Este FC Porto, no entanto, ao invés de ser incisivo, revela-se apático. Só desperta quando se vê em apuros. Fá-lo demasiado tarde, obviamente.
Estar a perder por dois golos, em casa, aos dezasseis minutos é algo impensável para uma equipa que ainda pretende manter-se na luta pelo título. O Olhanense joga um futebol vistoso para uma equipa que luta para não descer, não se fecha em esquemas tácticos ultra-defensivos, por vezes paga por isso, é certo, mas favorece o futebol. No Dragão, fez exactamente o mesmo: encarou o FC Porto com coragem, pressionou uma defesa intermitente, com Maicon sob brasas, fez dois golos de rajada, um bis de Djalmir, deixou os dragões ainda mais perdidos na sua ansiedade. Convenhamos: com hipóteses reduzidas de chegar ao pentacampeonato, vendo a Liga dos Campeões da próxima temporada longe, a perder por dois-zero com o Olhanense, que resposta poderia dar o FC Porto?
Há que dizê-lo: os dragões tiveram garra e fizeram de tudo para chegar ao golo. Essa era, contudo, a postura que deveriam ter adoptado desde que entraram no relvado, não correndo atrás do prejuízo. O FC Porto teve oportunidades, acertou por duas vezes nos ferros da baliza de Ventura, mas jogou mais com o coração do que com a cabeça, teve alma e não lucidez. Conseguiu chegar ao golo, a dez minutos do fim, num desvio de Falcao. Aumentou a fé de como ainda era possível inverter o rumo do jogo. Se é verdade que este dragão demonstra muitas fragilidades técnicas para quem quer ser campeão, tem jogadores completamente perdidos na manobra da equipa, também o é que não vira a cara à luta. Por isso conseguiu, in extremis, empatar. Por Guarín. O dragão pagou caro o avanço dado.
Texto de Ricardo Costa, do blog Futebolês, para o Negócios do Futebol
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