Olhar sobre o FC Porto


Desde a minha última crónica, que foi em meados de Dezembro, várias situações despontaram no Porto, e também no futebol português em geral. Não tenho tempo para falar em todas elas, sob pena de tornar a crónica maçadora para os leitores, mas convêm fazer uma listagem dos temas:


1. Mercado de Inverno
2. Resultados desportivos do FC Porto

3. Túneis, Stewards, Castigos e afins
4. Classificação do campeonato


1. Ora bem, começando pelo mercado de transferências, se bem se lembram terminei a minha última crónica salientando a ideia de que o Porto não necessitava de reforços, pois eles encontravam-se no plantel. De certa forma acertei no que disse. Pedi um Belluschi melhor e mais eficaz, e isso tem-se visto nos últimos jogos, pedi um Hulk mais regular e obtive um Varela e um Falcao em sobre-rendimento, pedi um Valeri com mais oportunidades e recebi Ruben Micael. De bónus, ainda ganhamos um novo "reforço", de nome Tomás Costa. Num cômputo geral, o Pai Natal foi generoso para com os portistas. Bom, parece-me bastante evidente perante as exibições do Porto que todas estas "prendas" estão interligadas. Digamos que eram prendas embrulhadas. Ruben Micael tratou de as desembrulhar. É um deleite ver Belluschi dos últimos tempos, que rasga defesas com passes de ruptura como uma faca quente em manteiga, comparado com aquele Belluschi trapalhão do ano passado que falhava passes a uns quantos metros. E tudo isto fomentado e criado apenas com a entrada de Ruben Micael no onze. É claramente um caso em que um jogador faz toda a diferença. Quando Raul Meireles estiver plenamente recuperado da lesão, vai ter de travar uma luta intensa com Belluschi por um lugar no onze. Isto porque o madeirense já é visto como titular indiscutível. Um negócio "à Porto". Não imagino outro jogador que consiga desempenhar o papel de Lucho González tão bem como Ruben Micael, com a relação preço/desempenho que este teve.



Para terminar este tema, falta apenas falar em Kleber e Addy. O gladiador prometia muito, mas acabou por ser demasiado ganancioso. Não fiquei desiludido com o falhanço das negociações. Bem pelo contrário. Empresários como os de Kleber são sempre espécimens detestáveis num clube como o Porto. Quem não se lembra de Diego ou Bruno Moraes? É certo que um ponta-de-lança com as características dele faz falta no Porto, mas apenas porque não podemos contar com Hulk. Como tal, para um futebolista a caminho dos 27 anos vir receber um ordenado principesco ao nível dos mais bem pagos, apenas porque um jogador do plantel com as mesmas características está castigado, era preciso a SAD estar muito cega. Creio que foi esse o principal motivo que levou à demissão de Fernando Gomes. Por isso caros portistas em boa hora vos digo, Kleberes é o que não falta por aí. Quanto ao jovem lateral esquerdo ganês David Addy, foi uma boa contratação. Desconheço de todo as suas capacidades, mas se foi titular indiscutível numa selecção campeã do mundo sub-20, então deve ter valor. Tem uma larga margem de progressão, e foi bastante barato, por isso a pressão do negócio é mínima. Espero ver um jogo dele em breve para retirar mais conclusões.


2. Houve muitos jogos desde a data da minha ultima crónica, logo só vou abordar os mais importantes.

Da série de jogos sem perder desde o fatídico jogo da Luz, destacam-se três. Primeiro o jogo na Madeira frente ao Nacional, que marcou a estreia de Ruben Micael. Depois, o jogo da Taça de Portugal que terminou com o cântico "Só eu sei porque não fico em casa"... por parte dos adeptos do Porto. Começando pelo jogo na Madeira, destaca-se naturalmente o resultado. 0-4 no reduto do Nacional não é tarefa fácil, embora a ausência de Ruben Micael, precisamente por estar a jogar do outro lado, tenha ajudado. E a estreia do madeirense foi genial. Parecia que já jogava na equipa do Porto há anos. De resto, foi este jogo que deu alento e esperança de um Porto mais forte daí em diante. E foi o que aconteceu, pois logo a seguir veio outra goleada, desta vez "chapa cinco", frente ao Sporting. E pasme-se, o Porto ganhou sem precisar de jogar contra 10 quase desde o apito inicial, ou contra 9 se não contarmos com o Grimi, e também não precisamos de foras-de-jogo cirúrgicos marcados a Pongolle. Foi um jogo tremendo, possivelmente o melhor do Porto esta época, a par do jogo em Madrid contra o Atlético. Por fim, há que destacar o jogo desta última jornada, frente ao Leixões. O que sobressai? Três coisas: o domínio do Porto (60% de posse de bola, mais ataques e remates, etc.), o anti-jogo badalhoco, o sr. Bruno Paixão.

O jogo do Porto não foi brilhante, admita-se, mas era mais do que suficiente para levar os 3 pontos de Matosinhos, não fosse o desacerto descomunal na hora de meter a bola na baliza, e algum engenho e criatividade do sr. Bruno Paixão. Vamos por partes. Belluschi podia ter marcado pelo menos dois golos, não fosse um remate que deu falhanço e outro que deu bola na barra após ligeiro desvio do guarda-redes. Varela também dispôs de oportunidades para marcar pelo menos outro. O Leixões, depois de uma primeira parte em que ainda discutiu o jogo como pôde, na segunda parte mostrou a equipa medíocre que é, e porque merece estar no lugar em que está: a certa altura, ao minuto 60, os jogadores atiravam-se para o chão a queixar-se de cãibras. Cãibras. Ao minuto 60. Numa equipa que tem um jogo por SEMANA. Mas o que é isto? É normal as equipas pequenas de Portugal queimarem algum tempo em lances como pontapés de baliza, cobranças de faltas, lançamentos, etc., quando jogam contra os grandes. Mas o jogo contra o Leixões assumiu contornos vergonhosos, de deixar corada de vergonha qualquer pessoa que diga que aqueles são jogadores de futebol "profissional". Melhor do que isto, só mesmo a passividade de Bruno Paixão a ver os leixonenses a tornar o que devia ser um bom espectáculo de futebol num enfadonho pára-arranca digno da VCI em plena hora de ponta, sem marcar as devidas sanções. E para culminar o pénalti escandaloso de Ruben Micael, que não foi assinalado porque o árbitro estava demasiado perto. Ainda bem que agora vem a Champions. Isto sim é uma competição ao nível do Porto. Não precisamos de nos preocupar com 14 adversários em vez de 11.



3. Chegamos ao tema fetiche dos futebol português da actualidade. Casos. Túneis. Stewards. Roubos de igreja e roubos de catedral. Enfim, por onde começar? Quando escrevi a minha última crónica, logo após o clássico, eu e todos os portistas estávamos longe de saber que no túnel da Luz tinha sido desenhado a cinzel e a martelo, sim, porque não tenho qualquer dúvida de que isto tudo foi premeditado, um plano para arredar do plantel do FC Porto algumas das suas principais unidades. Infelizmente para a Comissão Disciplinar e para o jornal A Bola, apenas Hulk e Sapunaru, este já emprestado na Roménia, foram "apanhados" pelas fantásticas e vanguardistas câmaras da Luz. As mesmas que pelos vistos conseguem alterar o ângulo das filmagens quando convêm. Que conveniente. Portanto, Hulk caminha para o seu 14º jogo nas competições portuguesas sem poder competir. E isto porquê? Porque, dizem, agrediu um Stewart que o provocou, um tal de Sandro, que curiosamente ou talvez não, estava numa zona em que era proibida a estadia de Stewards, ou qualquer tipo de pessoal não-administrativo. Ora bem, vejamos casos recentes de agressões no panorama internacional. Tivemos, até há bem pouco tempo, o caso do Pepe, que agrediu barbaramente um jogador do Getafe. E com barbaramente quero dizer com pontapés, depois do jogador se encontrar no chão. Solução? Em pouco mais de um par de dias, Pepe ficou a saber que a sentença era de 10 jogos de suspensão. É agora que começamos a perceber o ridículo da suspensão de Hulk. Então Pepe, que agride sem motivo nenhum um jogador adversário leva 10 jogos de suspensão, enquanto o Hulk, que reagiu a provocações, já vai em 14 jogos de suspensão, e ainda nem sequer se sabe a sentença? Conclusão: tem mão leve a justiça desportiva espanhola... Mas os casos dos túneis não ficam por aqui. Após o jogo do Nacional contra o Benfica, no estádio da Luz, Ruben Micael queixa-se de que se passaram «coisas estranhas». Naquela altura ele informou os jornalistas para que visionassem as imagens do sistema de vídeo-vigilância do túnel da Luz, o mesmo sistema implacável que não falhou quando foi para incriminar o Porto. Sabe-se agora que as tais coisas estranhas foram ameaças de Rui Costa, e mais ameaças e ataques de chacota por parte de Jorge Jesus. Onde andam essas imagens? Eu gostaria de as ver. Para bem da verdade desportiva...



Mas os casos não ficam por aqui. Nem pelo Porto e Nacional. Vandinho e Mossoró também foram "caços" pela Comissão Disciplinar. São, como se sabe, duas peças importantíssimas para Domingos Paciência no seu Sporting de Braga. Pelos vistos também agrediram jogadores do Benfica no túnel do Estádio AXA. Ora vejamos, o que têm Porto e Braga em comum além de serem do Norte? Para que sejam os únicos visados pela justiça da Comissão? Será por serem jogadores dos clubes que estão na luta pelo titulo? Pois... Ou alguém acha que se Hulk ou Vandinho jogassem na Naval ou no Setubal, teriam sequer algum castigo?

Fiquei também a saber que é permitido, mas só a um certo clube, impunidade total em agressões. Atentem nas seguintes imagens:





Alguém descobre qual destas quatro imagens é a intrusa?

Para terminar, fiquei também a saber que o Rentería queria uma... mala. Que o preparador físico do Benfica carinhosamente queria... oferecer. Que situação nada estranha. Afinal, isto é o futebol português...

4. E para a semana temos Porto X Braga, o jogo da jornada. Um jogo que pode ditar o afastamento do Porto na luta por um lugar de Champions, caso não dê vitória. O calendário não está fácil, e um jogo contra o Braga logo após um embate frente ao Arsenal não era o mais indicado. Mas é aqui que se distinguem os clubes grandes dos clubes pequenos. Se o Porto conseguir ganhar, fica a 5 pontos do Braga, o que é recuperável com alguma sorte. Já relativamente ao Benfica, estamos a 9 pontos, mas temos um jogo a menos e ainda os recebemos aqui no Dragão. Com um deslize do Benfica contra o Sporting, ou contra o Braga, e o que parece muito difícil nesta altura pode parecer mais fácil. Acima de tudo o Porto tem que entrar tranquilo nos jogos, e poder contar com o apoio incondicional dos adeptos. Só assim conseguiremos chegar ao segundo Penta da história do futebol português.



Texto de Francisco Carvalho para o Negócios do Futebol