Olhar sobre o FC Porto


O FC Porto qualificou-se para os oitavos de final da Liga dos Campeões. Acaba por ser esta a máxima de maior relevância relativamente ao jogo frente ao APOEL. Não foi um jogo muito bem disputado, admita-se. O Porto desperdiçou demasiadas oportunidades flagrantes de golo, mais uma vez houve jogadores em sub-rendimento, mas todavia, ganhou. Creio que neste momento é isso que tem de estar interiorizado nas mentes dos adeptos do FC Porto. Longe do futebol espectáculo, o que interessa agora é ganhar. O “show de bola” virá com o tempo. Recordo aos adeptos que destilam impropérios em tudo o que é sítio desportivo da internet contra as exibições que o Porto tem produzido (acrescente-se, muitos deles andam com medo do “bicho papão” do Benfica), que o Inter foi campeão europeu nos anos 60’ usando o infame “Catenaccio”. Se se queixam de que o Porto pratica um mau futebol, vejam os jogos do Inter naquela época após marcarem o primeiro golo. Mas não deixaram de ser campeões europeus…



Este medo que, com estranheza e tristeza constato, muitos adeptos do Porto têm esta época, de um clube em particular, é para mim surreal. Chego ao cúmulo de registar, umas 10 vezes por dia, opiniões que sugerem que o Jesualdo seja afastado da equipa técnica. Mas eu pergunto, anda tudo doido? O Benfica é autenticamente banalizado frente ao Braga para o campeonato, mas o facto de ganhar em Inglaterra para a modesta Liga Europa frente a uma equipa que se encontra a dois pontos da “linha de água” do campeonato inglês, já ressuscita as dúvidas sobre se o Porto conseguirá ser campeão. Meus amigos, em boa hora vos digo, esperem e não desesperem. Eu acredito que será uma questão de tempo até o Porto regressar ao seu “habitat natural”, que é o primeiro lugar. Mais, vaticino que a 20 de Dezembro será… a Última Ceia de Jesus.

Se tiverem atenção às épocas anteriores, perceberão que as equipas de Jesus tendem a quebrar, digamos assim, numa determinada altura do campeonato. Sim, o ritmo do Benfica é alto actualmente, mas não será mantido por muito mais tempo. Nenhuma equipa aguenta. E será nessa altura, creio, que o Porto atingirá o seu pico de forma, quando o mestre Jesualdo não tiver o seu plantel assolado por lesões e todos os jogadores e estiverem a rodar ao mais alto nível. É isso que de resto distingue os grandes dos pequenos: não é qualidade durante um período de tempo relativo, mas sim regularidade ao longo de todo o campeonato.



Mas façamos um exercício. Vamos pôr por hipótese que o Porto efectivamente está mergulhado num abismo de mau futebol, e consequentemente só consegue vitórias tangenciais ou empates fracos. Este, aparentemente, é o pior Porto dos últimos 10 anos, dizem alguns “entendidos”. O Benfica, por outro lado, vive o seu apogeu, com um futebol vistoso e harmonioso (que insisto na ideia que para mim não passa de fogo de artificio, que bem esmiuçado tem muitas pontas soltas), um Benfica da era antiga, o melhor dos últimos 30 anos, dizem outros “entendidos”. Então o que separa o pior Porto dos últimos 10 anos do melhor Benfica dos últimos 30 anos? Somente dois pontos na Liga Sagres. Isto, e o Porto já têm o apuramento garantido para a próxima fase da Liga dos Campeões enquanto que o Benfica, num grupo infinitamente inferior na sua respectiva prova europeia (o que é o Everton ao lado do Chelsea, o AEK ao lado do Atlético de Madrid ou o BATE ao lado do APOEL), ainda precisa de mais uns quantos pontitos. Há coisas fantásticas não há?



Por fim, ainda duas breves notas. Primeira: Varela está perto da recuperação total. Caso para dizer, FINALMENTE. Que falta tem ele feito. Até á lesão, Varela era, para mim, simplesmente o melhor jogador do Porto. Corria, fintava, cruzava, marcava e assistia. Um jogador como Varela faria toda a diferença, por exemplo, na primeira parte com o Belenenses ou com o APOEL. Esperemos que regresse á sua forma antes da lesão muscular. Segunda: Paulo Bento demitiu-se do cargo de treinador do Sporting. Deixo aqui a minha solidariedade ao agora ex-técnico do clube leonino. Muitas vezes Paulo Bento foi injustamente acusado das blasfémias que afectavam o Sporting, mas aguentou com tudo. Foi homem. E não esquecer as suas conferências de imprensa. Dizia aquilo que muitos treinadores não tinham/têm coragem de dizer. E basta lembrar que em quatro anos, Paulo Bento deu quatro vezes o segundo lugar ao Sporting, deu uma Taça da Liga (que foi retirada pelo “Ferrari de Setúbal”, mas para mim aquele troféu está e estará sempre atribuído a Paulo Bento) deu duas Supertaças, as duas contra o Porto, e duas taças de Portugal, uma delas frente ao Porto, e isto para não falar de dar ao Sporting pela primeira vez os oitavos de final da Liga dos Campeões. Agora, o que mais sobressai, é que isto tudo foi conquistado com meios substancialmente inferiores do que aqueles dos dois rivais, e com um plantel, a meu ver, de inferior qualidade a ambos também. É obra. Arrisco a dizer que o Paulo Bento no Porto era facilmente campeão. Mas também, no Porto, “qualquer um se arrisca a ser campeão”.

Texto de Francisco Carvalho para o Negócios do Futebol