Olhar sobre o Sporting


O Silêncio mais Longo - Crónicas de um Leão ferido

Não sei se aconteceu outras vezes, mas também não é importante, o que interessa é que este compasso de espera, o silêncio ensurdecedor que se manifesta na demora da escolha do nosso treinador, é no mínimo dado a todas as especulações.

Parte das saídas estará resolvida com a contratação de Ricardo Sá Pinto, a quem estimo as maiores felicidades nesta nova fase da sua carreira e por outro lado, quero acreditar, irá com humildade, servir o nosso Sporting. Mas esta humildade tem de ser mesmo sentida e não repetida da boca para fora.

Nós sportinguistas estamos nervosos e ansiosos pelo fim da época. Se calhar no momento em que ler esta crónica, amigo cibernauta, o assunto do treinador já estará resolvido, mas os factos já não podem ser apagados.

Esta demora num clube como o Sporting demonstra bem o navegar à vista de costa em que o clube mergulhou, correndo risco sério de encalharmos (no mínimo) e a qualquer momento. Não esqueçamos que os donos do Titanic também diziam que o navio jamais afundaria… e o Boavista há algumas épocas foi Campeão Nacional…

Não sendo um optimista por convicção, acredito que vamos conseguir lutar pela renovação da presença na Liga Europa da próxima época, mas mais do que isso será pedir demasiado.

Este início de época matou todas as expectativas da equipa profissional e a solução da saída de Paulo Bento só resolve parte do problema. Sabe-se que o problema já vem de longe mas o final da época anterior indiciava já o que se passava e a não classificação para a Liga dos Campeões, já este ano, foi um sinal claro de como, estando à beira do abismo, demos um passo em frente. A falta de coragem em assumir a ruptura, por parte dos dirigentes e da equipa técnica, ajudou a chegarmos a este estado calamitoso em termos desportivos. Embora me pareça que estamos somente no início dos problemas. A parte financeira vai chegar já a seguir, alguém vai querer continuar a pagar e quem deu garantias pessoais ao clube não vai aceitar qualquer sacrifício pessoal do seu património.

Mas em vez de recalcarmos os insucessos desportivos será importante que os sócios compreendam que a situação não melhora se não eliminarmos o colete-de-forças e o “sistema” em que o Sporting mergulhou a troco de uma quimera de “projecto desportivo”, letargia da qual tardamos em ver uma saída. Hoje em dia um conjunto de pessoas, do qual quero acreditar que o Presidente não fará parte que vivem dentro do Sporting e qual sanguessugas se alimentam do Clube e dos seus parcos recursos. Acredito que José Eduardo Bettencourt, mal aconselhado e não fazendo parte do “sistema”, irá tentar modificar alguma do actual status-quo, mas sem resultados desportivos e sem meios para financiar uma equipa de futebol profissional competitiva a tarefa passa por ser uma quimera, quiçá termine com a morte do artista, a equipa profissional do Sporting.


Texto de José Manuel Cardoso