Olhar sobre o Benfica


Tive um treinador que dizia que o excesso de confiança nas equipas fazia com que elas jogassem em bicos de pés. Ele explicava que jogadores com excesso de confiança ganhavam “mania” e jogando em bicos de pés por se julgarem mais “altos” (melhores) nunca tinham os pés bem assentes no chão, resultando numa equipa fácil de derrubar.

Julgo que foi mais ou menos isso que aconteceu ao Benfica na supertaça, a jogar em bicos de pés logo foi derrubada e o choque foi tão grande por parte daqueles que se julgavam tão “altos” que nem sequer se levantaram durante o tempo todo.

Não quero, ao dizer isto, tirar mérito ao porto, em especial a Villas Boas. Quero sim, dar os parabéns ao jovem treinador pela inteligência que revelou no jogo e pelo bom inicio que fez neste novo e importante desafio que tem. Falo na inteligência que teve porque soube exactamente como anular completamente a equipa adversária fazendo o Porto exercer grande pressão logo no momento inicial de construção de jogo do Benfica, ganhando a posse de bola no meio campo adversário, evitando que a equipa contrária subisse, criasse perigo e acima de tudo criando eles próprios sucessivos lances de perigo não deixando o adversário “respirar” nem ganhar qualquer espécie de ímpeto.


Queria, no entanto, revelar uma preocupação que tenho com este Benfica pelo menos enquanto Jorge Jesus continuar a insistir com o Airton. Ainda fico impressionado por perceber que há treinadores que não percebem ou não dão importância ao pivô defensivo enquanto construtor de jogo, gestor de ritmos e transições ofensivas, ou seja, vêem sempre este jogador como um trinco que serve apenas para recuperar bolas e fazer compensações. Não julguem que estou a criticar o airton, até porque considero que tem bastante potencial e é bastante competente tacticamente, mas ainda precisa de muito trabalho quanto às qualidades que já referi serem importantes num pivô defensivo. De novo, peço que não seja mal interpretado, não estou a dizer que um médio defensivo deva ser um prodígio em técnica e que faça passes á Rui Costa, mas sim que seja responsável no passe já que joga numa zona sensível. Só para servir de exemplo Makélélé no Chelsea com Mourinho fazia em média 86 passes por jogo! Neste jogo o Airton errou uns 40/50% dos passes para não falar das perdas de bola em zonas perigosas! A forte confiança e convicção nas suas ideias sempre foi uma qualidade que aprecio nos treinadores mas cuidado, há limites, e quando a equipa começa e ser demasiado prejudicada essa convicção não pode dar em pura teimosia porque já passa a ser defeito e grave. Capacidade de adaptação e capacidade de assumir enganos também são qualidades muito apreciadas.

Numa coisa Jorge Jesus tem razão, disse no flash interview que não se podia tirar mérito e qualidade a jogadores que na época passada fizeram coisas grandes. Ainda agora começou e muita coisa acontece e muda numa época inteira, ainda vamos a tempo de ganhar (quase) tudo! Muita gente diz que as férias são pequenas no futebol, eu cá digo, já tinha saudades!

Texto de André Ferreira para o Negócios do Futebol